quinta-feira, 30 de julho de 2015

Monumento “Homenagem ao Cafeeiro” e a história do café em São Paulo

Como parte das comemorações do IV Centenário da fundação da cidade de São Paulo, foi inaugurado, no dia 25 de janeiro de 1954, o Monumento ao Cafeeiro.
Monumento do alto do pedestal

A obra, que fica no parque do Ibirapuera bem em frente ao prédio da Bienal, foi feita pelo escultor Francisco Zeri e executada por Fusor Fundição de Metais Ltda.

Sobre os dados técnicos do monumento

É uma peça feita em bronze platinado, com 3,70 metros de altura, 1,10 metros de largura e 1,00 metros de profundidade.

O Cafeeiro está sobre um pedestal de granito branco lavrado, de 2,50 metros de altura, 2,00 metros de largura e 1,96 metros de profundidade. A base desse pedestal também é feita em granito branco e mede respectivamente 0,50 x 4,50 x 4,50 metros de altura, largura e profundidade.

Há dois detalhes especiais nesse monumento. Ele possui inscrições em duas das faces do pedestal, ambas em baixo relevo, de autoria do poeta Mário de Andrade.


Na face frontal, que aponta para a rua, pode se ler:

“AO CAFEEIRO:
ÁRVORE GENEALÓGICA
DA RIQUEZA PAULISTA.

REGADA PELO SUOR QUE VIVIFICA
ETERNIZA-A O METAL QUE GLORIFICA”

Na face posterior, está a inscrição:

“COM ESTE MONUMENTO, QUE
GUARDA EM SEU PEDESTAL
UM PUNHADO DE TERRA DE
CADA MUNICÍPIO CAFEEIRO DESTE ESTADO  A
SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA
E
AS DEMAIS REPRESENTATIVAS
DA ECONOMIA PAULISTA
COMEMORAM O 
IV CENTENÁRIO DA CIDADE DE
SÃO PAULO.” 

"Homenagem ao Cafeeiro". Escultura de Francisco Zeri
 Cafeeiro e Obelisco - Parque do Ibirapuera

 O segundo detalhe é que o monumento guarda em seu pedestal um punhado de terra de cada município cafeeiro de São Paulo simbolizando a união do estado. 

Pedestal guarda terras cafeeiras de São Paulo

Monumento em frente ao pavilhão da Bienal

A origem da Iniciativa da obra veio da Comissão do IV Centenário e Sociedade Rural Brasileira, em associação com representantes de outras entidades como a Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, Companhia Paulista de Estradas de Ferro, Cooperativa Central dos Lavradores de Café, Bolsa de Mercadorias de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo, Associação Comercial de Santos, Confederação Rural Brasileira, Associação Comercial de São Paulo, Bolsa de Cereais de São Paulo, Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo e Cooperativa Agrícola de Cotia.

O Monumento ao Cafeeiro aponta para o céu
Perfeição nos detalhes dos grãos de café

Outro detalhe, agora sobre a conservação desse monumento que tanto representa o progresso e desenvolvimento de São Paulo, refere-se a uma iniciativa da Prefeitura Municipal de São Paulo. Esta criou o programa chamado Adote uma Obra Artística por um decreto de 8 de setembro de 1994, com o objetivo de recuperação de monumentos da cidade expostos em áreas públicas e necessitados de restauro.

No ano de 2008 a empresa Votorantim, gigante brasileira no ramos de cimentos, siderurgia e agroindústria, tornou-se parceira do Programa Adote uma Obra Artística. Por meio do “Projeto 30 Homenagens” a empresa se propôs a “adotar” e patrocinar o restauro de 30 monumentos de São Paulo como parte da celebração de seus 90 anos de atuação. Entre os monumentos selecionados estava o Cafeeiro, que segue altivo até os dias de hoje.

Introdução à história do café em São Paulo

O café é originário da região da Etiópia e difundiu-se para o mundo através do Egito e da Europa.

No Brasil o café chegou na segunda década do século XVIII pela região norte, através do sargento-mor Francisco de Melo Palheta, que trouxe escondido as primeiras mudas de café tipo arábica da Guiana Francesa a pedido do governador do Maranhão e Grão-Pará.

No século XIX, com a queda nas exportações de algodão, açúcar e cacau, os fazendeiros brasileiros sentiram a grande oportunidade de obterem altos lucros com o “ouro negro”, aumentando os investimentos para ampliar os cafezais e espalhando as plantações de café por todo o país. Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro essa lavoura encontrou o terreno e condições geográficas mais propícias, com regularidade de chuvas e clima adequado. Plantado em vales e montanhas, o café proporcionou o surgimentos de novas cidades.

Logo no início do século XIX foi fundada a primeira fazenda de café em São Paulo, no vale do rio Paraíba do Sul.

Na segunda metade do século XIX o café, além de ser muito consumido no mercado interno, tornou-se também o principal produto de exportação brasileiro principalmente para os mercados dos Estados Unidos e Europa, que aumentavam seu consumo.

Os fazendeiros, principalmente os paulistas, fizeram fortunas com o comércio do produto, investindo pesadamente no desenvolvimento industrial de cidades como São Paulo, o que pode ser recordado até hoje na história de muitas mansões e edifícios que ainda existem. Eram os Barões do Café que habitavam as grandes e imponentes construções urbanas e que traziam de suas viagens a arte e a cultura da Europa.

Acompanhando o aumento industrial das cidades principalmente do sudeste do país ocorreu concentração do poder político e econômico. Ferrovias para o escoamento do café desde o interior de São Paulo até o porto marítimo de Santos foram construídas, sendo a primeira, a São Paulo Railway, inaugurada em 1867, ligando a cidade de Jundiaí a Santos.

Com a limitação do trabalho escravo após a proibição do tráfico negreiro pela Lei Eusébio de Queiroz, em 1850, o rápido e grande desenvolvimento vigente necessitava ainda mais de muita mão de obra. Isto atraiu a imigração européia, tanto para a lavoura de café quanto para a indústria, o que era devidamente estimulada pelo governo imperial da época. Dispostos a trabalhar e enriquecer, italianos, portugueses, espanhóis, japoneses e árabes trouxeram mais prosperidade a São Paulo. Calcula-se que o café tenha sido o responsável pela vinda ao Brasil de aproximadamente 4 milhões de imigrantes entre o final do século XIX e início do século XX, período mais produtivo do assim chamado Ciclo do Café. Nesse período o Brasil possuía a maior parte da oferta do produto para o mundo todo, chegando a colher 45 % da produção mundial no ano de 1845. O País controlava os preços do comércio do café e decidia de que forma iria atuar na economia internacional.

Como o crescimento da economia baseada no café dependia do aumento populacional dos países consumidores, a produção por vezes superava a demanda. O governo brasileiro nesses períodos comprava os estoques e os incinerava para poder manter os preços.
Algumas geadas ocorreram e provocaram temporariamente diminuição da produção do café, que logo a seguir, se recuperava.

Outro fator que exerceu influência sobre a economia do café foi a crise financeira internacional de 1929. Se os preços na época já tendiam a cair, a crise fez com que a demanda internacional pelo produto diminuísse ainda mais, o que forçou a baixa dos preços com maior rapidez. O governo brasileiro não encontrava nenhuma solução para absorver os estoques, o que causou uma quebra na economia cafeeira da época.

Após esta crise, o governo, agora nas mãos de Getúlio Vargas, passou a desempenhar papel ativo com intervenção na economia cafeeira.

A história do café se modificou novamente com a Segunda Guerra Mundial, que prejudicou o comércio e causou queda nos preços internacionais do produto. Após 1945 houve nova retomada dos preços e incentivo de novos plantios, proibidos anteriormente. A partir de então a produção de café sempre teve papel de destaque na economia, sem, contudo, voltar ao glamour do início do século passado.

O café e seus derivados foram os principais produtos brasileiros de exportação durante quase 100 anos. A economia cafeeira desencadeou o desenvolvimento que alavancou vários setores do Brasil com ênfase na industrialização e urbanização dos grandes centros. Se São Paulo é hoje a grande metrópole que conhecemos, foi seguramente durante o ciclo do café que teve alavancada sua transformação.


Monumento em tarde de sol - 2015

A Homenagem ao Cafeeiro não é uma simples escultura, mas a representação de uma agricultura que impulsionou definitivamente o desenvolvimento da cidade.

3 comentários:

  1. Boa tarde, após ler o seu texto, tenho a satisfação de verificar que temos o mesmo sobrenome. Gostaria de saber onde encontro a relação das cidades com terra depositada no monumento. Obrigado.

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  2. Parabéns pelo texto. Para quem gosta de história como eu, é uma delícia de leitura e aprendizado.

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  3. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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