terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Dez meses após sua partida Tomie Ohtake revive em nova obra na Avenida Paulista

Dez meses após o falecimento, aos 101 anos de idade, da artista plástica nipo-brasileira Tomie Ohtake, uma das artistas símbolo de São Paulo, nova escultura é inaugurada na Avenida Paulista.

Como em tudo há uma história, com essa obra não poderia ser diferente. O texto foi obtido de reportagens e entrevistas com seu filho Ricardo Ohtake, que acompanhou a fixação da escultura e o arquiteto Jorge Utsunomiya, que trabalhou com a artista nos últimos 30 anos.

Obra de Tomie Ohtake, em canteiro na Av. Paulista

Alguém observa a escultura ao caminhar

Detalho aqui que nem sempre as informações são idênticas, tais como o tamanho oficial da obra ou o tempo que levou para ser concluída. Não há ainda registro dela no site do Instituto Tomie Ohtake, que também não respondeu à minha solicitação, por telefone e correio eletrônico, sobre a existência de um possível nome para a obra.
É, contudo, reportado que Tomie Ohtake “não gostava de explicar as esculturas que fazia, mas gostava de ouvir o que as pessoas comentavam sobre elas”.

Tomie Ohtake trabalhava nessa escultura, já projetada para ser instalada na Avenida Paulista, embora sem localização definida, quando ocorreu seu falecimento. Era um sonho seu ter uma obra nesse local tão simbólico e vital para a cidade de São Paulo.

Tomie projetou a obra a partir de um modelo de 40 (ou 20?) cm, embora não tenha conseguido vê-la finalizada. Durante quatro meses de trabalho árduo sua criação ocorreu num armazém onde eram produzidas carrocerias de caminhões. Após a programação de engenharia, chapas de aço foram cortadas, moldadas e pintadas com tinta especial, também utilizada em navios.

Por fim a escultura estava pronta, vermelha e prateada, com 7 toneladas e 8,5 metros de altura, sendo inaugurada no dia 15 de dezembro de 2015, uma terça-feira após referidas duas horas de instalação. Mais uma majestosa companhia para a Avenida que embelezou não só o ponto onde foi instalada, mas todo o seu entorno, realçando-o. 

Destaque na Av. Paulista, a escultura tem formas curvas não definidas

Resultado de um projeto desenvolvido por Tomie em parceria com a Associação Paulista Viva, que se interessou pelo projeto, a obra teve patrocínio do Citibank, que comemora 100 anos no País.
O local definido foi na altura do número 1.111 da Avenida Paulista, entre as alamedas Pamplona e Campinas, no sentido Paraíso, no canteiro em frente à sede do Citibank, escolhido para não obstruir a passagem de pedestres e outros elementos de sinalização urbana.

À noite a escultura é ainda mais bonita.

A escultura em vermelho e prateado

"Moldura" para a icônica Torre Cásper Líbero, da Gazeta/Globo

Outro ângulo, outro formato da obra

A obra realça a noite na Avenida Paulista 

Detalhe da parte interna prateada sob novo ângulo

A escultura refletindo a vida na Avenida Paulista

Quantas pessoas! A obra dialoga com a cidade. Esse era o desejo.

  Esperamos sinceramente que essa instalação urbana, clássica desde seu primeiro momento, seja respeitada e protegida indefinidamente.


Tomie Ohtake (Fonte: site do instituto Tomie Ohtake)

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Museu de Arte Sacra de São Paulo e seus presépios


Todos os anos, tradicionalmente, o Museu de Arte Sacra (MAS) apresenta nas comemorações natalinas uma mostra de presépios. Neste ano de 2015 a maior parte da mostra foi transferida para a Sala Metrô Tiradentes, dentro da Estação Tiradentes do Metrô – Luz, com o propósito de que mais pessoas posam admirar presépios de todo o mundo. Além da facilidade de acesso, o próprio ingresso do metrô já autoriza a entrada na sala de exposição.

Se você estiver no MAS terá acesso fácil à Sala Metrô Tiradentes, bastando sair pelo portão lateral e cruzar uma pequena faixa de pedestres. Há escadaria, escada rolante e elevador funcionante para descer ao piso da exposição. A outra opção é chegar pelo próprio metrô, como já dito.

Com a mostra “Em Busca do Presépio Universal” são apresentados conjuntos de presépios de várias partes do mundo pertencentes à Coleção de Presépios do MAS. Dentre os belos e originais presépios, vou detalhar dois mais significantes.

Entrando no espaço expositivo, que está bem cuidado e identificado, no fundo da sala e atrás de uma vitrine de vidro está um grande presépio. É o “Presépio Napolitano”, de autor desconhecido e doado ao Museu por José Carlos Reis Marçal de Barros. As peças, em barro cozido e policromado, madeira, tecido, liga metálica e gesso, bem como a montagem são originais napolitanas. Datado de prováveis dois séculos atrás, tem as mesmas peças e cenário do homônimo que se encontra no MAS e descrevei posteriormente.

Embora tanto ele quanto os demais presépios sofram muita interferência da iluminação deles e da sala para obter boas fotos, a riqueza de detalhes das figuras, com o Menino Jesus entre colunas romanas é possível de ser notada.

A montagem “La Nascita de la Esperanza”: é uma obra belíssima de autoria de Ulderico Pinfildi, uma das maiores autoridades mundiais em presépios, que herdou a arte de seu pai. Procedente de Nápoles, Itália, foi confeccionada em terracota modelada à mão e policromada, madeira, arame revestido com fio de estopa, seda pura, algodão cru e acessórios de prata. Foram criadas mais quatro unidades desse exemplar, sendo que uma se encontra no Vaticano. A obra mostra um homem representando a humanidade que estende a mão em direção à Sagrada Família, na esperança de um futuro melhor.

Presépio Napolitano na Sala Metrô Tiradentes

Anjo do Presépio Napolitano
La Nascita de la Esperanza de Ulderico Pinfildi
Detalhe do homem
Detalhe da Virgem com o Menino Jesus
Nas fotos a seguir, outros presépios.

Presépio Nigeriano em madeira entalhada, séc XX. Autor desconhecido
Os presépios são expostos em redomas de vidro
Presépio da Ilha da Madeira séc XX. Autor desconhecido.
Presépio Japonês séc XX. Autor desconhecido.
Serragem, seda e palha de arroz
Lapinha ou Menino Jesus do Monte
Autor:Freirinhas do Convento dos humildes-Bahia

Como nasceu o Mosteiro da Luz (com texto adaptado do site do MAS)

A ideia de sua construção partiu da Irmã Helena Maria do Espírito Santo do Antigo Convento de Santa Tereza, por volta de 1772. Esta afirmava ter visões de Jesus pedindo a construção de um lugar de recolhimento. Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, o Frei Galvão, confessor da Irmã, confirmou a veracidade das visões e a partir daí, com o auxílio de superiores, definiu o melhor lugar para a construção desse lugar. 
Fachada
Em 1774 existia nos "Campos do Guaré", atual bairro da Luz, uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Luz. As casas do entorno foram a seguir ocupadas pelas freiras em fevereiro de 1774 sob o nome de Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. Frei Galvão providenciou uma nova construção para a capela e habitações, arrecadando ele mesma os fundos para a construção e buscando a mão de obra, que incluía as irmãs e a sua própria. A obra terminou em 1788 e a Igreja do Mosteiro teve a construção finalizada apenas em 1802.

O acervo do museu que nasceria no Mosteiro da Luz começou a ser formado por Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro arcebispo de São Paulo, que a partir de 1907 começou a recolher imagens sacras de igrejas e pequenas capelas de fazendas que sistematicamente eram demolidas após a proclamação da República. Desde 1970 o Mosteiro passou a abrigar o Museu de Arte Sacra de São Paulo através de convênio firmado entre a Mitra Arquidiocesana e o governo do Estado de São Paulo.

O Museu de Arte Sacra de São Paulo

Considerado um dos principais monumentos arquitetônicos coloniais do Estado e um dos mais bem conservados, o Museu é a única edificação colonial do Século XVIII. As cerca de dezoito mil peças, o Museu concentra um dos mais significativos acervos museológicos do patrimônio sacro brasileiro. Possui relíquias de arte barroca com peças de todo o Brasil e de diversos outros países, que incluem imagens sacras, prataria, jóias, pinturas, mobiliário, moedas e livros.

O Museu apresenta exposições de seu acervo de longa duração, temporárias, como os presépios de Natal e também virtuais. No museu ocorre ainda programação de atividades culturais diversas. 

Emoção ao lado de São Francisco em gesso, 2,30m, de Victor Brecheret
Santos em nó de pinho típico de São Paulo século XIX
Busto de Bom Jesus da Cana Verde sobre
credência de altar
N. Sra. da Piedade, século XIX
Autor desconhecidoBarro cozido, papel e tecido moldado. 
"Igreja da Sé e Cúria de São Paulo em 1863"
Óleo sobre tela de Benedito Calixto
Em destaque à esquerda, Escudo Mariano, séc. XVIII

O Mosteiro da Luz
O local é um complexo formado pelo Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, clausura das Irmãs Concepcionistas, responsáveis por confeccionar as famosas pílulas milagrosas do Frei Galvão, Igreja Nossa Senhora da Luz e o Museu de Arte Sacra, que ocupa a ala esquerda do piso térreo do Mosteiro da Luz desde junho de 1970. Na Igreja de Nossa Senhora da Luz estão guardados os restos mortais de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, canonizado pelo Papa Bento XVI durante sua visita ao Brasil em maio de 2007.
O anexo Museu do Presépio guarda o Presépio Napolitano, de 1.620 peças, considerado uma das maiores montagens do mundo, que retrata Nápoles no século XVIII. Foi trazido ao Brasil por Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo Matarazzo, em 1949 e doado ao Museu. Este é o presépio com formação semelhante ao exposto na Sala Tiradentes, apenas com mais peças.

O edifício do Mosteiro é tombado nas três instâncias nacionais, Iphan, Condephaat e Conpresp como monumento arquitetônico de interesse nacional. 

Entrada principal do Museu de Arte Sacra - profeta Abdias
Esta réplica de Aleijadinho (original em Ouro Preto) é o profeta Isaías
Réplicas de esculturas do Aleijadinho no caminho para o Museu do Presépio
Realmente um grande e enriquecedor passeio
O grande Presépio Napolitano
Detalhe do Presépio Napolitano
Repare nos pratos decorando o interior da casa
Horário para visitação: quarta a sexta-feira das 9h às 17h | sábado e domingo das 10h às 18h
Ingressos: Grátis aos sábados. Os passageiros do Metrô terão livre acesso à Sala Tiradentes.
Tel.: (11) 3326.3336 – agendamento de visitas monitoradas para grupos

A eterna magia do Natal num museu especial

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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Galeria tátil de esculturas brasileiras na Pinacoteca

A Pinacoteca do Estado de São Paulo possui, desde março de 2009, uma Galeria Tátil de Esculturas Brasileiras com obras dos séculos XIX e XX pertencentes ao seu acervo, dispostas para apreciação especial de deficientes visuais.

A bela fachada da Pinacoteca de São Paulo

A Galeria conta com 12 esculturas brasileiras realizadas por renomados artistas que podem ser exploradas de forma autônoma por meio do toque livre, sendo 11 em bronze e uma em aço.

Logo na entrada da Galeria, que fica no segundo piso da Pinacoteca, há um grande totem com o mapa tátil que orienta sobre o espaço e o percurso de apreciação das obras. A planta da Galeria inclui também a indicação do percurso em relevo do piso tátil, o que ajuda na orientação e direcionamento na exposição.

A seleção das obras expostas levou em conta a opinião do próprio público com necessidades especiais visuais participantes de visitas orientadas e critérios de diversidade estética para facilitar a compreensão e apreciação artística. Foi notado que as preferências recaíam sobre obras cujas figuras guardavam alguma história, alguma simbologia que pudesse ser compreendida, o que enriqueceu demais a Galeria.

As obras aguardam para serem exploradas em suas características relativas à dimensão, forma e textura e também pode ser usado o olfato para reconhecimento dos materiais. Todas as esculturas são identificadas com textos e etiquetas em dupla leitura, com escrita em braile e em tinta, que identificam o nome da obra, artista e ano em que foi confeccionada.

Placa indicativa da galeria tátil

Totem com o mapa da galeria tátil e legendas em braile e tinta


Homenagem a Dorina Nowill

A iniciativa do audioguia merece uma atenção à parte. Retirado na recepção do museu, não só orienta o visitante como apresenta uma rica descrição e comentário detalhado de cada obra.

É verdadeiramente emocionante a forma como Hélio Ziskind, compositor, arranjador e intérprete preparou o audioguia.

Hélio primeiramente convida e orienta o visitante a posicionar-se diante de cada escultura e com o comando “vamos juntos” solicita que seja iniciada a exploração tátil indicando um ponto inicial da obra para isso, como os olhos ou pés, enquanto soa um fundo musical individual para cada escultura visitada. O final do som de uma flauta indica que será iniciada a explanação sobre a obra. Em cada obra há uma seqüência orientada de exploração manual, com detalhes a serem sentidos em cada parte da obra. A voz do audioguia convida o visitante a pensar sobre o que está sentindo e faz questionamentos a respeito, respondendo logo a seguir. A delicadeza da fala e o aprofundamento nas informações associados às belas histórias que envolvem cada escultura nos transportam ao mundo que o autor desejou retratar. O nome da obra, que está sempre acessível em braile, é referido no audioguia no momento mais propício. Após colocar o visitante em contato com a proposta da escultura seu autor há a seguir uma breve biografia da caminhada artística do autor.

Ao término da descrição de cada escultura o visitante é orientado a permanecer na obra apertando o botão de pausa no final da música ou deixar o som prosseguir para seguir adiante.

Detalhe que apenas as pessoas com deficiência visual têm permissão para tocar as obras, de forma a permitir seu livre e amplo acesso a qualquer momento.

Sobre o edifício da Pinacoteca, em estilo neo-renascentista italiano, foi construído entre 1897 e 1900 e concebido por Leôncio Carvalho, (pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo) sendo o primeiro museu de arte de toda a cidade de São Paulo, localizado no Parque da Luz, centro da cidade. Desde sua inauguração em 1905, o Prédio foi alvo de inúmeras reformas. A última, com projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha foi concluída em 2002, deixando o museu como o conhecemos hoje.

Porta aberta da antiga entrada

Detalhe do piso guiando o trajeto das esculturas

A relação das esculturas segue abaixo, juntamente com informações detalhadas sobre cada obra, que podem ser ouvidas pelo audioguia.

As duas primeiras obras na seqüência em que são indicadas ao visitante serão apresentadas aqui com detalhes para que possam se transportar às imagens que apresento e tenham idéia do valor desse trabalho. Os textos foram resumidos e transcritos do próprio audioguia, disponível na internet.

Escultura 1: Leda, de Lélio Coluccini, 1950

"Leda", de Lélio Coluccini
Detalhe lateral da asa do cisne
Escultura Leda inicia a visita à galeria com muito encanto
Vamos olhar as fotos e acompanhar também a descrição.

É uma peça grande e vertical e retrata uma pessoa ajoelhada. Pode se contornar a obra ao redor da base e tocá-la em toda sua extensão.

A voz do audioguia sempre solicita que o visitante se posicione em frente à obra, sobre o piso de alerta. Nesta, é solicitado que se localize os dois orifícios do nariz de uma pessoa. Subindo, notar que as pálpebras estão semi fechadas e o espaço entre os olhos está liso e sem rugas e as sobrancelhas distantes. Estes detalhes da face sugerem que a pessoa retratada parece estar serena. A seguir a voz chama a atenção para o corte de cabelo, que é trabalhado, com uma onda mais alta na frente e na altura das orelhas o cabelo se solta e cai até as costas. Parece um penteado feminino.

Descendo pelos ombros nota-se um braço que sobre e que cobre um dos seios. A mão tem os quatro dedos esticados e um elemento arredondado como que encaixado. Na lateral sente-se o formato de um olho e um bico comprido. É a cabeça de uma ave. Os olhos da mulher encostam-se ao rosto da ave e parece que a beijam.

O pescoço começa fino e desce sinuoso, cada vez mais grosso, passa sobre o outro seio e sentem-se agora as asas da ave e a outra mão da mulher segurando o corpo da ave junto ao seu. Há uma dobra de pano sobre seus pés.

A ave é um cisne. O cisne está acomodado entre as pernas da mulher, que tem um joelho tocando o chão da escultura. Se essa mulher estivesse em pé sua altura seria de aproximadamente 1,80 metros.

A qual conclusão podemos chegar? Parece uma mulher bonita e nua abraçada a um cisne. O bico da ave fechado e as asas relaxadas não parecem mostrar que haja luta ou tensão entre eles. Os dedos da mão da mulher esticados parecem carinhosos e trazer a ave para si, sugerindo uma atmosfera de sensualidade.

E essa imagem não convencional do que se trata? O escultor que a fez deu corpo a uma cena da mitologia grega.

Leda era uma jovem e bonita mulher casada com o rei de Esparta. Zeus, o senhor do Olimpo, embora casado com a deusa Hera, teve inúmeros amores mortais e, para conquistá-los, muitas vezes se transformava em animal para poder seduzir as mulheres.

Zeus pedira a Venus que o transformasse numa águia e o perseguisse. Fingindo estar com medo do ataque o cisne se refugia nos braços de Leda, que o envolve e em seguida Zeus a fecunda. A cena representa ao mesmo tempo o abraço maternal e o ato sexual descrito nessa história mitológica.

A imagem de Leda e o Cisne foi retratada por diversos artistas como Leonardo da Vinci e Dali. É uma imagem que nos impressiona até hoje e em minha opinião, dentre as imagens que vi, esta escultura tem a mais delicada e comovente representação.

Sobre seu autor:

Lélio Coluccini nasceu na Itália em 1910 e chegou ao Brasil aos 5 anos de idade. Era ajudante na marmoraria da família quando seu pai notou seu talento e o enviou para estudar na Itália, onde se tornou importante escultor. Retornou ao Brasil, na cidade Campinas, em 1931 e faleceu em 1983.

É dele a escultura em granito “Diana, a caçadora”, localizada no Jardim das Esculturas, no Parque do Ibirapuera em São Paulo. (ver também http://blogdatesp.blogspot.com.br/2015/10/arte-ao-ar-livre-no-jardim-das.html)

Escultura 2: “Moema”, de Rodolfo Bernardelli, 1895


"Moema", de Rodolfo Bernardelli

Detalhe mais próximo da escultura

Siga olhando as fotos. A obra é horizontal, parece uma mesa grande. Suas dimensões são 25 x 218 x 95 cm. O audioguia convida para sentir e caminhar. O fundo musical é do som das ondas do mar numa praia.

“Vamos juntos?” Convida a localizar a cabeça e posicionar-se em frente para os olhos.

É uma figura feminina deitada de bruços com o rosto voltado para o lado. Os cabelos parecem desarrumados e cobrem parte de seu rosto. Na altura do pescoço há uma serie de pequenos objetos lado a lado formando um colar, que ao tato poderiam ser sementes ou dentes. Descendo pelas costas sentimos, mesmo que sem as mãos, a superfície bem lisa. Na altura da cintura há formas alongadas e pontudas que parecem penas, como uma tanga. As nádegas são perfeitas, nuas e viradas para cima. Parece que as pernas estão cobertas por alguma coisa. Pano? Lama? Água? As palmas das mãos estão reviradas para cima.

O formato do corpo, a tanga e o colar nos levam a pensar numa índia. O que teria acontecido com a índia? Estaria viva nadando na beira do mar ou estaria morta com o rosto semi enterrado na areia?

É uma história brasileira de amor, verdadeira ou não. Nos anos de 1700, frei José Santa Rita Durão escreveu um poema, a história de um português chamado Diogo Álvares Correia que um dia naufragou nas costas da Bahia. Ele e a tripulação sobreviveram e passaram a conviver com os índios tupinambás, que o apelidaram de Caramuru, o rei do trovão. Na aldeia Diogo conheceu a índia Moema e sua irmã Paraguaçu. Afeiçoou-se a Moema, teve filhos com ela e ensinou-lhe sua língua e costumes de Portugal, aprendendo também a língua tupi.

Após algum tempo novo navio voltou à costa do Brasil e Diogo resolve voltar para a Europa, levando consigo Paraguaçu, por que agora estava apaixonado. Moema se sente traída, mas mesmo assim lança-se ao mar e sai nadando. Alcança a embarcação, agarra-se ao leme, mas não sendo correspondida por seu amor, prefere morrer, sendo engolida pelo mar.

A escultura mostra o momento em que o corpo da jovem Moema é devolvida à praia pelas ondas. O artista conseguiu reproduzir o efeito de submergir algumas partes do corpo criando um forte diálogo entre a pele lisa da índia e superfície rugosa do mar. Belo desafio para o escultor fazer com que a matéria dura do bronze tivesse a leveza e o movimento das ondas do mar, não?

Bernardelli nasceu em 1852 no México, chegando ao Brasil com 52 anos. Foi professor, pintor e escultor. Rodolfo Bernardelli foi o escultor oficial do Império e da Republica no século XIX.

Pertencente ao acervo do Museu de Arte de São Paulo e considerada um dos mais importantes marcos da fase indianista do Romantismo Brasileiro, Moema está representada numa pintura de Victor Meirelles. Coloquei a foto tirada no MASP para que possa ser comparada à escultura apresentada.

Escultura 3: “Índia”, de Paulo Mazuccheli, sem data


"Índia", de Paulo Mazuccheli

É uma escultura pequena e rica em detalhes com texturas variadas e bem sutis.

O som de uma flauta com melodia indígena o visitantes explora uma imagem feminina de cabelo escorrido que lembra cortes indígenas. Numa mão há um instrumento pontiagudo. Na outra um vaso ou uma moringa. A índia esta sentada sobre os calcanhares e possui tanga.

O que estará fazendo? Ao tato, o objeto pontiagudo poderia ser lápis ou um pincel. No vaso há desenho geométrico com linhas escavadas. Essa índia está escavando um vaso de cerâmica marajoara.

No audioguia da obra é explicado detalhadamente agora todo o processo da criação de uma escultura de bronze.

Por fim, uma bela constatação: “Ainda bem q existem as esculturas de bronze. Graças ao bronze é possível tocarmos hoje as esculturas. Se fossem de pedra, mármore ou argila o simples toque durante anos destruiria as esculturas”.
Pouco se sabe sobre o escultor e sua obra.

Escultura 4: “Apóstolo São Paulo”, de Décio Villares, sem data


Apóstolo São Paulo”, de Décio Villares

Detalhe das palavras gravadas "epístola" e assinatura do autor

Ao som com cantos gregorianos o visitante é convidado a sentir um busto com traços marcantes. É um homem com barbas longas e cabelo cacheado. Possui rugas na testa, sobrancelhas franzidas, olhos bem abertos, na boca aberta podem ser sentidos os dentes e o peito está incompleto.

O rosto parece alegre, sereno ou de espanto ou medo?

Quem foi o apóstolo São Paulo?

Antes de ser um dos apóstolos de Cristo ele se chamava Saulo. Filho de judeus ricos era culto e por suas crenças acreditava que os princípios judaicos estavam sendo ameaçados pelos seguidores de Cristo e por isso os combatia.

Conta a história que ao seguir para Damasco para combater os seguidores de Cristo Saulo se deparou com uma luz muito intensa que o cegou e ouviu a voz de Jesus que dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? A revelação foi tão forte que Saulo se converteu, mudou o nome para Paulo e passou a ser um missionário de Jesus.

O escultor buscou transmitir como seria o rosto de alguém que passou toda a vida acreditando numa idéia e num instante emocional tão forte, num momento de cegueira, passou a acreditar no seu oposto.

Detalhe que a obra possui ainda mais dois elementos: cobrindo um dos ombros há um pedaço da vestimenta e no peito do apóstolo a base parece transformar-se em outra coisa. O visitante é convidado a sentir duas pontas na obra e na que fica bem à frente da escultura há algo levemente levantado. Abaixo da ponta há ranhuras horizontais. É um livro que se funde com o peito do apóstolo e a ponta que se levanta é uma página do livro onde está esculpida a palavra epístola. O livro representa as grandes escrituras deixadas por ele aos cristãos e à humanidade.

Décio Villares (1851-1931) nasceu no Rio de Janeiro, realizando em sua carreia grande exposições coletivas. É o autor do desenho da bandeira nacional substituindo o escudo da monarquia e acrescentando o lema Ordem e Progresso e a constelação Cruzeiro do Sul.

Escultura 5: “Auto retrato”, de Amadeu Zani, 1931

"Auto retrato", de Amadeu Zani
Esta escultura também é um busto, sem vestimenta.

Ao sentir a escultura o visitante pode perceber cabelos curtos e ondulados. Há um par de óculos redondos sobre a testa levemente franzida, como que fazendo esforço para enxergar. Os olhos abertos apresentam uma curva abaixo deles. Há rugas profundas ao redor no nariz. Na boca há um cigarro.

Seria um jovem ou um senhor? Estaria calmo ou nervoso? Os lábios sem curva para baixo ou para cima não estão demonstrando nenhuma tensão facial. Parece que o artista apenas se observa, como se estivesse num momento de pausa e observando sua obra de longe.

Amadeu Zani nasceu na Itália e chegou ao Brasil com 18 anos. Foi professo e um dos fundadores da Academia de Belas Artes de São Paulo. Dentre suas obras destaca-se na cidade “Glória Imortal dos Fundadores de São Paulo”, no Pateo do Collegio.

Escultura 6: “Homem andando”, de Ernesto de Fiori, por volta de 1929

“Homem andando”, de Ernesto de Fiori
Detalhe da apresentação das esculturas

É uma escultura vertical de 97 x 38 x 56 cm. Pode se dar a volta ao redor dela.

A sensação tátil é inteira rugosa e áspera.

Começando pelo peito nota-se um homem sem camisa, magro, com músculos do peito definidos. Abaixo da cintura um pano o atravessa e parece se fundir ao corpo. As pernas estão afastadas em passo largo. Os dedos dos pés não aparecem. Os braços alternados com as pernas demonstram ato de caminhar. Parece marchar ou andar bem depressa em passos largos e rápidos e o corpo inclinado para frente indica vontade de seguir.

O homem não tem roupas ou objetos para saber de que época ele é. Parece que o artista se concentrou apenas na idéia do andar, sem dar importância ao local onde o homem poderia se encontrar.

Para onde olha o caminhante?

Andar ereto tem significado para o ser humano. A textura rugosa da escultura poderia ser interpretada como a sensação de algo não acabado. Talvez queira expressar que esse homem de andar ereto, tão simbólico para o ser humano, ainda está em transformação, não acabado.

Ernesto de Fiori nasceu na Itália em 1884. Chegou ao Brasil com 52 anos para se refugiar da segunda guerra mundial, falecendo em 1945, data do final da guerra. Fez uma série “homem em marcha”, com característica de representação do homem em movimento.

Escultura 7: “Dois nus femininos entrelaçados”, de José Pedrosa, 1940


"Dois nus femininos entrelaçados", de José Pedrosa
A escultura representa duas figuras humanas femininas. A mulher à esquerda tem cabelo preso com coque redondo, a cabeça levemente inclinada para baixo e as pálpebras fechadas. Parece serena. A outra cabeça tem rabo de cavalo e olhos abertos.

A duas mulheres estão sentadas no chão e na mesma posição, uma de frente para a outra. Cada uma toca delicadamente o peito da companheira com a ponta do pé esquerdo e o outro pé é segurado pelas mãos delas. Os rostos serenos e a postura não parecem indicar luta. Há atmosfera de sensualidade. Parece que o escultor conseguiu transformar o corpo humano, de formas tão conhecidas, numa surpresa.

O foco de interesse dessa escultura são as formas, nos induzindo a sentir os dois corpos como sendo um corpo só.

O autor, Jose Pedrosa (1915-2002), era mineiro. Ao lado de Niemeyer e Lúcio Costa foi importante na consolidação do modernismo no Brasil e, assim como Niemeyer. sempre atraído pela beleza e sensualidade das curvas. É dele a monumental cabeça de Juscelino Kubitschek para a Praça dos Três Poderes em Brasília.

Escultura 8: “Gazela”, de Eugênio Pratti, sem data

"Gazela" de Eugênio Pratti
E uma pequena escultura com a parte de cima arredondada, onde se pode sentir uma cabeça.

Ao som de animais silvestres o narrador descreve o animal. As patas dianteiras estão paralelas e as traseiras bem separadas. Destaque para o focinho longo, orifícios do nariz amplos e boca que parece até pequena para o tamanho do animal. O dorso faz curiosa curva bem acentuada, de toque gostoso. Não é a curva de um círculo perfeito, mas uma curva imperfeita, especialmente desenhada pela natureza nas costas da gazela.

È uma gazela com focinho perto do chão como que se alimentado comendo. A cabeça virada para o lado parece que reagiu a algum ruído e a escultura captou o instante em que a gazela parece avaliar se o ruído que ouviu seria para assustá-la.

Eugenio Pratti (1889-1968) nasceu na Itália e veio para o Brasil em 1926. Foi artista importante na Europa e no Brasil. Fez muitos monumentos funerários para os jazigos dos combatentes do Movimento Constitucionalista de 32.

Escultura 9: “Torso”, de Victor Brecheret, 1930

“Torso”, de Victor Brecheret
O visitante é convidado a acompanhar com o tato esta escultura vertical, começando pela base circular. Subindo, o diâmetro vai diminuído e a partir de platô circular começa a figura esculpida. É explicado o que é um torso, uma representação da figura humana sem cabeça ou membros.

Esse torso é de uma mulher de forma sinuosa e equilibrada. O corpo levemente distorcido cria uma forma nova que dialoga com a realidade, com curvas femininas acentuadas.

Victor Brecheret (1904-1955), italiano, chegou ao Brasil com 10 anos de idade. Desde cedo se interessou por esculturas inicialmente trabalhando em barro, que cozinhava no forno de sua tia. Estudou no Brasil e na Europa. É dele o Monumento às Bandeiras, cartão postal de São Paulo.

Escultura 10: “Prometeu acorrentado”, de Bruno Giorgi, sem data


“Prometeu acorrentado”, de Bruno Giorgi
Esta obra bem pequena parece tem o contorno de uma esfera achatada numa das extremidades que parece ser uma cabeça ao tato. Mas onde estão as mãos e os pés?

Não há olhos, nariz ou boca, e a cabeça está sustentada por pescoço grosso.

Parece que as mãos estão unidas, assim como os pés, mas não são sentidos os dedos, parecendo haver uma pequena bola no local. O tronco fino parece torcido Braços e peito formam um espaço interior meio circular e outro anel circular é formado pelas pernas.

Qual a sensação que transmite? Relaxado ou tenso? Estaria tentando soltar os membros?

Prometeu foi um personagem da mitologia grega. Um dia roubou o fogo, privilégio dos deuses, para dá-lo aos mortais, pois representava a luz do saber. Mas sua dedicação aos humanos fez com que Zeus o castigasse. Acorrentou-o numa pedra e ordenou que diariamente uma águia viesse comer seu fígado. Todas as manhas a águia vinha e todas as noites o fígado se regenerava. O sofrimento de Prometeu não tinha fim.
Séculos depois Hércules, um herói mortal, matou a águia e o libertou.

Nesta representação não tradicional da história o artista mostra o personagem preso a si mesmo, sem recursos para soltar-se. Os anéis dos braços e pernas parecem elos de uma corrente. Não foram representados detalhes da cena mas os conceitos abstratos de ficar preso sem conseguir soltar-se, de representar a corrente com apenas 2 elos, o conceito de incluir a corrente no corpo do homem. Aqui, a forma da escultura deu corpo aos conceitos.

O audioguia comenta como são diversas as concepções artísticas mesmo nessa galeria. “Há artistas que buscam retratar e descrever e há outros que preferem recriar e transformar”.

Bruno Giorgi (1905-1993) nasceu em Mococa, São Paulo. Viveu e estudou na Itália por 30 anos e de lá foi expulso após ter sido preso por ser adepto do movimento antifascista. É de sua autoria a obra “Os Candangos” na Praça dos Três Poderes em Brasília.

Escultura 11: “Sem título”, de Amilcar de Castro, 2000


“Sem título”, de Amilcar de Castro
Esta escultura é a única que não é confeccionada em bronze, mas em chapa aço bruto. É circular, áspera, com espaço tridimensional. Pode-se caminhar ao redor dela.

O artista simplificou às formas mais simples, de círculo e quadrado.

Possui forma arredondada pela parte exterior com círculo externo perfeito e linhas retas pela parte de dentro. Foi esculpida por máquina.

O assunto da obra é o espaço e as formas geométricas e suas transformações. A arte abstrata se afasta da aparência externa das coisas.

Amilcar de Castro (1920-2002) nasceu em Minas Gerais e foi um escultor, artista plástico e designer gráfico. A obra foi feita numa empresa de fundição e no audioguia é possível ouvir a descrição completa do processo de produção da obra incluindo o depoimento do próprio autor.

Escultura 12: “Guanabara”, de Alfredo Ceschiatti, 1960

“Guanabara”, de Alfredo Ceschiatti
Detalhe de cabeça e tronco
Observar a citada comparação do autor com as curvas com o Pão de Açúcar
Esta grande e horizontal escultura representada uma figura humana feminina pelos dados do toque. Mede 62 x 164 cm.

É uma mulher deitada sobre seu lado direito e o autor quis acentuar o contraste entre a cintura fina e a coxa grossa. N parte de trás uma nádega está nua e a outra tem tecido.

Na cabeça a boca tem lábios grossos e nariz reto e os olhos amendoados estão abertos. O cabelo é liso com coque atrás. Um dos cotovelos está apontado para cima como se fosse o cume de uma montanha. O outro cotovelo apóia no chão.

O topo da escultura com seu sobe desce brinca com os contornos do morro do Pão e Açúcar, na Guanabara, que em tupi guarani significa bahia do mar. O cotovelo para o alto imita o topo do Pão de Açúcar. O quadril e a coxa fazem um paralelo com o morro da Urca.

A história de Guanabara: Diz a lenda indígena tupi que as índias no fim do dia iam com suas mães banhar-se no mar ver os reflexos de Guaraci, o sol, sobre as águas.

A menina Guanabara apaixonou-se por Guaraci. Guanabara cresceu e uma tarde implorou para que Guaraci, o deus sol, a levasse para viver com ele. O deus sol se compadeceu e transformou o corpo deitado da índia numa cadeia de morros e todas as tardes, ao descer do céu, Guaraci a envolvia com sua luz e calor.

Ceschiatti (1918-1989) nasceu em Belo Horizonte. Ficou conhecido por seus importantes trabalhos realizados em todo o Brasil. Fez” Os anjos suspensos” na catedral de Brasília.

Na sequencia " O apóstolo', "Auto retrato", Dois nus entrelaçados", "Torso"
Vista parcial do espaço da galeria tátil

A Pinacoteca do Estado de São Paulo está aberta de terça a domingo e tem acesso fácil com estação de metro na porta e estacionamento gratuito para os automóveis.