sábado, 31 de outubro de 2015

Arte ao ar livre no Jardim das Esculturas. Admirando todas as obras.

O Jardim das Esculturas é um jardim de 6 mil metros quadrados ao ar livre localizado no Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo. Foi projetado pelo paisagista brasileiro Burle Marx para receber obras do Museu de Arte Moderna (MAM) tendo sido inaugurado em 1993.

O Jardim das Esculturas abriga atualmente uma exposição permanente de 30 esculturas produzidas no Brasil durante a segunda metade do século XX.

O local tem uma localização especial, pois são obras de artes entre outras obras de arte, como a Oca, o pavilhão da Bienal (ambos do arquiteto Oscar Niemeyer) e o próprio MAM (cuja estrutura atual foi concebida pela não menos famosa Lina Bo Bardi). O chão forrado por pequenas pedras, argila expandida ou areia dificulta a circulação de bicicletas e similares e propicia uma sensação tátil muito agradável. Uma visita ao local pode durar horas, pois é possível interagir com algumas obras, explorando-as como a “Craca” ou sentando-se ao sol e realizando atividades como leitura ou música em esculturas como a “Sectiones mundi”. As obras são cercadas de vegetação e à noite são destacadas por iluminação própria.

O detalhe deste post é que vocês encontrarão a descrição e imagem de cada escultura do Jardim e poderão escolher suas prediletas. Agora as fotos, na ordem numérica que as identifica.


1. "Relógio de sol ", Chrartes de Almeida, 1984
ferro pintado
2. "Aranha", Emanoel Araujo, 1981
aço-carbono pintado - doação Rhodia
"Aranha" - pensada inicialmente para um espaço fechado,
agora emoldura a visão da OCA
3. Sem título, Maurício Bentes, 1991
ferro, luz e água
4. Sem título, Elisa Bracher, 1999.
madeira e parafusos de ferro
 Doação Banco Abc Brasil
5. "Carranca", Amilcar de Castro, 1978
aço Corten
6. Sem título, Amilcar de Castro, 1970
aço Corten
7. "A caçadora", Lélio Coluccini, 1944
granito
Representa a figura mitológica de Diana, a caçadora
8. "Exu mola de Jeep", Mario Cravo Jr., 1953
9. Sem título, Carlos Fajardo, 1997
granito e madeira
Doação Itaú Cultural
10. Sem título, Carlos Fajardo, 1990
ferro e água
A escultura plana está à esquerda, na frente da "Árvore"
11. Sem título, Iole de Freitas, 1997
albita com mica, aço inoxidável, latão, chumbo e cobre
Doação Fundação AT & T
12. "Laminescate", Luiz Hermano, 1991
ferro
13. "Escultura", Felícia Leirner, 1973
argamassa cimentícia pintada
14. "Realidade alusiva", Antonio Lizárraga,1988
aço pintado
15. "Miragem I, II e III', Cleber Machado, 1988
aço pintado e vidro laminado
Doação Blindex Vidros de Segurança Ltda
16. "Árvore", Cleber Machado, 1991
aço pintado
Doação Banco Sudameris
17. Sem título, Ivens Machado, 1994
concreto armado
Doação Milú Villela
18. "Sectiones mundi", Denise Milan e Ary Perez
concreto armado e alumínio
Representa o centro da Terra com camadas da superfície que se
intercalam até a semi-esfera central, onde há uma impressão
digital aumentada muitas vezes, em alumínio, 
19. "Pedra torcida", Hisao Ohara, 1985
granito e pedra
Outubro de 2015 - escultura ausente
20. "Aparador'", Eliane Prolik, 1991
aço pintado
21. "Craca", nuno Ramos, 1995,96
alumínio fundido/peso de 5 toneladas
Doação Beatriz Bracher
"Craca", outras esculturas, Oca, Obelisco..,pura arte
"Craca" foi construída por uma espécie de
 fossilização artificial de coisas naturais, 
misturando os objetos orgânicos à massa metálica. 
A estrutura tem impressas a memória de conchas,
peixes e flores que, de fato um dia estiveram ali. 
22. Sem título, José Resende, 1997
aço Corten
Doação Itaú Cultural
23."Sete ondas-uma escultura planetária", Amelia Toledo, 1995
aço
Uma vivência da cultura brasileira
24. " A coisa", Caciporé Torres, 1972
aço pintado
na foto, marquise do MAM
25. Sem título, Angelo Venosa, 1997
alumínio fundido
Doação Itaú Cultural
26. "Cantoneiras", Franz Weissmann, 1975
aço pintado
Na foto, Bienal ao fundo
27. "Grande quadrado preto com fita"
Franz Weissmann, 1985aço pintado
28. "Corrimão", Ana Maria Tavares, 1996
aço inoxidável. Itaú Cultural
Representa peça do mobiliário urbano que normalmente
 passa desapercebido
Foto obtida de www.flickr.com
29. "Tetraedros", Sérvulo Esmeraldo, 1997
aço Corten
 Itaú Cultural
Rigor geométrico em frente à Oca
30. "As irmãs". Alfredo Ceschiatti, 1966/2001
bronze patinado sobre base de mármore
Doação Alexandre Ceschiatti
De Alfredo Ceschiatti, o "escultor de Brasília"

Todo o acervo pertence à coleção do MAM, com exceção da escultura "A Caçadora", que pertence à Prefeitura de São Paulo.
Nas fotos está apontado o doador das obras. Onde nada conta, as obras foram doadas pelo próprio autor.



















segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Cine Belas Artes: detalhes da trajetória ao tombamento e reabertura

O endereço Rua da Consolação 2423, quase esquina com a Avenida Paulista, é associado com a exibição de filmes há décadas, mas foi, contudo, em 1967 que ganhou o nome que guiaria sua famosa trajetória, Cine Belas Artes.

Com a exibição do longa de Norman Jewison “Os russos estão chegando, os russos estão chegando” teve início a programação de um dos cinemas mais antigos da cidade e que sempre se caracterizou por ter programação diferenciada mesclando filmes de nacionalidades diversas, variação de gêneros desde filmes de arte a clássicos antigos e produções contemporâneas e com exibição de filmes alternativos aos circuitos comerciais. Outra característica que sempre o distinguiu foi a manutenção de alguns filmes  em cartaz por longo período.
Tudo isso fez do Cine Belas Artes um dos mais importantes e tradicionais pontos de encontro intelectual e artístico da cidade.

Fachada atual do Cine Caixa Belas Artes
Entrada do Cine Caixa Belas Artes em 2015

Seu nome anterior era Cine Trianon e localizava-se pegado ao Cine Ritz-Consolação, que havia sido inaugurado em 1943 e ficava na Rua da Consolação número 2403. Até hoje os dois cinemas tem sua história confundida como sendo o mesmo endereço e não dois cinemas com trajetórias e endereços distintos, como de fato eram. Com a demolição do Cine Ritz-Consolação, em 1968, o Cine Belas Artes ganhou sua história independente, pois já havia sido projetado com recuo para receber o alargamento da Avenida Consolação, não precisando ser demolido.

A trajetória e o fechamento do Cine Belas Artes

Patrimônio da cidade, sua história antiga se perde no meio de tantos acontecimentos ocorridos ao seu redor.

Foi no ano de 1967 que o prédio projetado pelo arquiteto italiano, posteriormente naturalizado brasileiro, Giancarlo Palanti, para a Construtora Alfredo Mathias iniciou suas exibições numa única sala. A gestão do cinema era de Dante Ancona Lopes, para a Cia. Serrador.

Nos anos 1970 o Cine Belas Artes teve sua estrutura interna alterada, com a divisão em três salas batizadas com nomes de brasileiros de importância nas artes: Villa-Lobos, Cândido Portinari e Mário de Andrade, época em que já era um cinema de muita procura e desdtaque pela sua programação diversificada e de qualidade.

Tudo seguia muito bem quando em 1982 as instalações das duas maiores salas do cinema, além de parte do prédio, pegaram fogo. A causa nunca foi esclarecida, mas as conseqüências se fizeram sentir.

Reaberto em 1983, um ano após o incêndio, o cinema passou para a gestão do grupo Gaumont Belas Artes, distribuidora internacional francesa que competia no mercado mundial com as americanas e ganhou mais três salas, passando a ser o primeiro cinema multiplex do Brasil. A salas eram Oscar Niemeyer, Aleijadinho e Carmen Miranda.

A companhia Gaumont gerenciou seu espaço artístico até 1986, quando o Circuito Alvorada assumiu o cinema.

Mas o Belas Artes estava em decadência, com dificuldades financeiras, administrativas e também estruturais. Em 2001a carioca Estação Botafogo gerenciou as salas por breve período.

Alegria com o patrocínio do HSBC
Em meados de 2002 a evidência de fechamento do cinema motivou o cineasta e cinéfilo André Sturm, dono da Pandora Filmes, em parceria com o grupo O2 Filmes, de Fernando Meirelles e associados, a assumirem o prédio. Nova busca por patrocínio e em 2003 o banco HSBC entrou permitindo que uma reforma mais ampla ocorresse. Foram cinco meses para a instalação de novos sistemas de segurança, fiação elétrica, som, telas, ar condicionado e adaptação dos espaços para o público.

O cinema se chamava agora HSBC Belas Artes. Em 2004, sob a direção de André Sturm, também diretor executivo do Museu da Imagem e do Som (MIS), o cinema foi reaberto com a exibição simultânea em todas as salas do filme nacional “Do outro lado da rua”. Foi um novo momento de alegria, que durou 6 anos.
Em 2010 o banco resolveu não renovar o patrocínio. Em entrevista dada por Sturm ao programa Metrópolis,da TV Cultura, ele conta que já havia feito acerto de renovação do aluguel com o proprietário, com aumento de valor, mas que em dezembro este pediu o imóvel alegando que cinema de rua era uma “atividade decadente” e que pretendia instalar uma loja no local.

O cinema num momento de abandono
Foto obtida do painel "Belas Artes meu amor"

Um cinema de rua com características únicas, que havia permanecido em funcionamento sob diferentes direções, não tinha mais patrocínio para renovar o contrato de aluguel e agora divulgava a assustadora notícia: o Cine Belas Artes encerraria suas atividades em 27 de janeiro de 2011. A entrega do imóvel e o fechamento do cine HSBC Belas Artes, mesmo com os protestos acalorados e imensa mobilização da população de várias gerações, era irreversível. Sturm então programou 15 dias de exibições especiais no intuito, em suas próprias palavras, de celebrar os 68 anos do Belas Artes e encerrar seu ciclo. Foram recuperadas cópias em película de filmes exibidos na trajetória das salas, produzidos desde a década de 20 até os anos 2000. Foram 28 filmes, exibidos em número de dois por dia.

A programação incluía duas mostras. A primeira sobre Clássicos do Cinema como “Apocalypse Now”, “O Passageiro - Profissão Repórter” e “Quanto Mais Quente Melhor”. A segunda mostra era composta por sucessos do Belas Artes tinha na programação filmes como “Noites de Cabíria”, “Possessão” e “Johnny Vai à Guerra”.

A data de fechamento do cinema foi adiada algumas vezes, mas nada poderia impedir o fechamento. Foi um dos assuntos mais discutido pelos paulistanos e nas redes sociais. O dia chegou e, em 17 de março de 2011, o Cine Belas Artes fechou!

Nesse dia as seis salas exibiram filmes pela última vez , à noite, quase no mesmo horário. Os filmes selecionados dentre clássicos do cinema foram: “A Doce Vida”, “No Tempo do Onça”, “O Leopardo”, “O Joelho de Claire”, “O Águia” e “Queimada”.

O cinema estava lotado, pessoas choravam, deixavam mensagens na árvore de papéis montada na porta do cinema, se manifestavam na rua com gritos, faixas e cartazes ou simplesmente compareciam para permanecer no hall de entrada aproveitando o último dia. Foi uma noite marcada por emoção e protestos.

No dia seguinte ao seu fechamento o Cine Belas Artes começou a ser desmontado. As poltronas foram retiradas e vendidas, e os equipamentos de projeção doados à Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA). O prédio vazio e abandonado se tornou alvo de pichadores.

Mobilização popular desencadeia o tombamento e restitui o Cine Belas Artes à cidade


Grande mobilização social ocorreu após o fechamento das salas do cinema. A perda de um espaço histórico e de relevância cultural para a cidade gerou manifestações públicas. Foi o começo de uma batalha em diversas frentes. Ocorreram vários movimentos populares espontâneos que incluíam abaixo assinados e passeatas, criação de blogs e sites, além de movimentos organizados de grupos de cineastas e críticos como a Associação Paulista de Cineastas. Foi criado o Movimento Belas Artes que reivindicou o direito à manutenção do patrimônio histórico junto aos três poderes. É descrito que o Movimento angariou ao redor de 120 mil assinaturas virtuais e outras 28 mil à mão, sendo a maior mobilização já ocorrida na cidade em defesa de um patrimônio cultural.

Manifestação popular. Foto obtida do painel "Belas Artes meu amor"
Cinéfilos ou não, a participação popular foi ampla e emocionada
Foto obtida do painel "Belas Artes meu amor"

Pressão popular contribuiu para a reabertura do Belas Artes
Foto obtida do painel "Belas Artes meu amor"

Ampla divulgação na mídia. Foto obtida do painel "Belas Artes meu amor"
Manifesto de boas vindas ao cinema - 2014
Mobilização e participação. Foto obtida do painel "Belas Artes meu amor"
Para manter a memória: no saguão o painel "Belas Artes meu amor"
Em 15 de outubro de 2012 o prédio foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), ligado à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. O órgão proibiu alterações na fachada do imóvel até quatro metros do espaço interno a partir da sua entrada. Também determinou a preservação de elementos na calçada em frente que remontem à memória do cinema, "a fim de garantir o registro permanente do lugar".

A partir dessa data a fachada do edifício passou a ser considerada oficialmente um patrimônio cultural da cidade, bem como os primeiros quatro metros do espaço interno medido a partir da calçada.

Segundo a decisão do conselho, não há restrição de uso, ocupação ou modificação do edifício. Assim, o prédio pode ser alterado e destinado a qualquer fim, desde que preserve os elementos tombados, que guardam a memória do local.

A medida, que busca, segundo o documento “garantir o registro permanente do lugar” na memória da cidade, também inclui a preservação da calçada em frente ao edifício, feita de pedras pretas e brancas que formam o desenho do Estado de São Paulo. O tombamento, no entanto, não implica em que haja nenhuma obrigatoriedade de manutenção do espaço interno do prédio ou destinação do imóvel a fins culturais ou de qualquer outro tipo.

A emocionante reabertura do atual Cine Caixa Belas Artes

Os movimentos em favor do cinema se sucederam e houve engajamento de políticos na batalha para termos novamente o Cine Belas Artes. Graças a um convênio entre a Prefeitura de São Paulo e a Caixa Econômica Federal o cinema voltou à atividade no mesmo local três anos após seu fechamento.

A data foi 19 de julho 2014. Na nova reabertura do agora rebatizado Cine Caixa Belas Artes a reinauguração das salas em dias diferentes, iniciando com sessões em três salas: Sala 2 – Cândido Portinari, Sala 3 – Oscar Niemeyer e Sala 4 – SP Cine Aleijadinho.

O dia da reabertura do cinema foi um evento na cidade de São Paulo. A fila de público dobrava a esquina da Rua da Consolação e chegava até a Avenida Paulista. Houve apresentação da banda Mustache e os Apaches até a abertura do cinema, com presença de convidados e merecidamente aberta ao público.

Cine Caixa Belas Artes, um patrimônio histórico e cultural devolvido aos paulistanos para grandeza da arte e cultura, é um dos últimos cinemas de rua, disputando seu espaço com os cinemas de shopping centers.

Um prédio privado que se tornou patrimônio cultural público graças à mobilização dos paulistanos. Foi tombado principalmente por ser "um espaço representativo da vida social e dos hábitos cotidianos da população" e não por seu valor arquitetônico.

Cine Caixa Belas Artes em 2015

O cinema está renovado e segue belo e aconchegante. O saguão está mais amplo e agradável, parecendo uma pequena praça, com direito à clássica pipoca e também a um mezanino, onde há uma bombonière. A bilheteria segue do lado esquerdo da entrada e há uma lojinha, com camisetas, DVDs e pequenas lembranças.

A entrada ganhou nova iluminação e um grande espelho para dar ar de modernidade e, à esquerda, um mural para homenagear o Movimento Belas Artes a importância dos paulistanos para a reabertura do cinema.

Detalhe do piso à entrada
Nova iluminação com lâmpadas como raios de sol
Entrada e bilheteria a partir do interior do hall
Um lanchinho e a clássica pipoca
Venda de DVDs e pequemos objetos
Comprei um lápis












A sessão vai começar

A decoração está repleta de murais com pôsteres de filmes, com temas sobre o cinema italiano, expressionismo alemão, Hitchcock e outros.

As salas seguem nos mesmos lugares, todas com cadeiras numeradas, rampas de acessibilidade e assentos próprios para cadeirantes e obesos.

Cada sala conta com um projetor digital e três delas, Cândido Portinari, SP Cine Aleijadinho e Carmen Miranda, também possuem projetor em película 35 mm. Quanto aos nomes, foi acrescentado um número para identificação de cada uma.

Sala 1 - Villa-Lobos, a maior, com 316 lugares

Sala 2 - Cândido Portinari (274 lugares)

Sala 3 - Oscar Niemeyer (150 lugares)

Sala 4 - SP Cine Aleijadinho (143 lugares)

Sala 5 - Carmen Miranda (90 lugares)

Sala 6 - Mário de Andrade (96 lugares)

Entrada para a Sala 1-Vila Lobos
Este é o caminho para a Sala 2
Sinalização para Sala 4 - SP Cine Aleijadinho
Do outro lado Sala 5 - Carmem Miranda
Parede com imagens de filmes italianos e Sala 6 à esquerda

E assim o Cine Belas Artes segue heroicamente sua trajetória de detalhes. Vamos torcer para que o patrocínio da Caixa perdure e para que a motivação do diretor André Sturm seja inabalável!

Agora nossa missão é aproveitar as exibições que o local no oferece.

Demostração do carinho pelo cinema

Agradecimento no mural