sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Pata-de-vaca, a árvore de copa “desajeitada”

A pata-de-vaca (Bauhinia variegata) é uma planta originária da China e Índia, muito cultivada no Brasil, principalmente no sudeste do país, como em São Paulo. A pata-de-vaca compreende mais de 300 espécies, somando as exóticas às nativas do Brasil. Dentre estas destaca-se a Bauhinia forficata, variedade de flor branca, nativa da Mata Atlântica e de outros biomas brasileiros, utilizada em fitoterapia com propriedades hipoglicemiantes, purgativas e de ação renal.

Voltando à Bauhinia variegata, esta é uma espécie de pata-de-vaca muito vista em praças e avenidas de São Paulo, tem sua floração a partir do fim do inverno e se destaca como uma das flores mais vistas na cidade nessa época.

Flor de Pata-de-vaca (Bauhinia variegata)

A pata-de-vaca é uma árvore de pequeno a médio porte, pode atingir 5 até 9 metros de altura, possui um tronco tortuoso que às vezes parece estar tombando, e tem sua casca cinza-escura, lisa ou finamente fissurada. A ramificação do tronco ocorre desde pouca altura ou até mesmo a partir de sua base. A pata-de-vaca é uma das árvores mais ramificadas que existem no sudeste do Brasil.

De copa aberta e assimétrica, as folhas são características. Chamadas tecnicamente de alternas e bifolioladas, destacam-se pelo tamanho maior que a maioria das árvores, até 12 cm de comprimento por 6 cm de largura, e pelo formato. São lisas e divididas em duas partes a partir da metade da folha, dando o aspecto característico de pisada de casco bovino, o que lhe rendeu seu nome. Possuem nervuras claras, mais destacadas no dorso da folha.

Os frutos são longas vagens achatadas e pendentes e podem ser vistos no mesmo tempo da floração, o que contribui para esse aspecto desajeitado e “descabelado” da copa da árvore. As sementes são castanhas ou pretas, arredondadas e achatadas.

Pata-de-vaca com flores brancas. Copa irregular.

Pata-de-vaca com flores lilás. Repare como é assimétrica.

Um pé em cada esquina. Duas alturas, troncos tortuosos.

Flores, vagens pendentes, folhas em várias direções. 

Detalhe de um belo tronco tortuoso
Flores parecem encaixar na típica folha
Detalhe da folha que deu nome à planta
Fenda parcial nas folhas. Parece ou não uma para bovina?

Detalhe do dorso da folha destacando as nervuras


Bela florada de Bauhinia variegata

Pata-de-vaca com flores rosa

Vagem longa, flor branca e a fiação urbana
Muitas vagens pendentes e folhas reconhecíveis à distância
A floração em São Paulo ocorre nos meses de outubro a janeiro. As flores dessa árvore, onde tudo parece um pouco exagerado e desajeitado, são grandes e vistosas e se parecem com as orquídeas, inclusive na tonalidades de suas flores. Sua florada exuberante faz com que seja muito procurada por abelhas. As flores têm pétalas estriadas e podem ser brancas ou rosadas e principalmente de cor lilás. Nestas, a pétala superior tem uma mancha arroxeada.

Em paisagismo, a pata-de-vaca é muito utilizada na arborização urbana de São Paulo pela beleza, abundância e duração de sua florada, pelo detalhe das folhas e pela característica das raízes, que são profundas e dessa forma não quebram as calçadas.

Patas-de-vaca e boa conservação da calçada
Um detalhe sobre seu nome científico: Bauhinia é um gênero criado por Linnaeus, em homenagem aos irmãos Jean Bauhin (1541- 1613) e Gaspard Bauhin (1550 -1624), suíços, médico naturalista e botânico respectivamente. Bauhin foi autor de vastos e importantes trabalhos de botânica.

E minha opinião repete e complementa o que li em algum lugar sobre a beleza de nossa vegetação. É um privilégio viver numa cidade que floresce durante todo o ano, inclusive no auge dos meses de inverno e que tem tantas flores, como a Bauhinia, que anunciam precocemente a chegada da primavera!

Bela florada lilás
Sob a sombra da árvore



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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Manacá-de-cheiro, a planta que atrai borboletas

O manacá-de-cheiro, ou manacá-de-jardim, é uma planta nativa da Mata Atlântica presente em São Paulo, com características das mais originais.

Manacá-de-cheiro em São Paulo
Seu nome científico é Brunfelsia uniflora e pertence à família Solanaceae. É conhecido popularmente também pelos nomes: manacá-de-jardim, garetataca, caágamba, mercúrio-vegetal e romeu-e-julieta.

O manacá-de-cheiro tem um ciclo de vida perene e seu porte é médio, podendo variar de um arbusto até uma árvore de pequeno porte, atingindo até 3 metros de altura.

Seus ramos são densos e as folhas ovaladas, lisas e verde escuras, podendo formar uma copa com até 2 metros de diâmetro, que tem formato alongado e arredondado.

Os detalhes desta planta, contudo, estão nas extremidades de seus ramos. É ali que podemos admirar uma infinidade de pequenas flores, principalmente entre os meses de agosto a outubro, que têm, dentre tantas características, um perfume especial e intenso, mas delicado e agradável, que pode ser sentido a uma distância de até 7 a 8 metros, desde o momento em que as flores abrem. Daí a razão de seu nome Manacá-de-Cheiro.

As flores são solitárias, arredondadas e mudam de coloração conforme envelhecem. Quando nascem as flores apresentam coloração azul-violeta e vão clareando até se tornarem brancas, o que torna o arbusto muito bonito, pois apresenta flores de cores diferentes num mesmo momento. As flores têm vida curta, mas a floração é longa, durando toda a primavera e verão, desde que cultivadas em pleno sol.

Manacá-de-cheiro (Brunfelsia uniflora)
Manacá-de-cheiro - flores arredondadas, pequenas e muito cheirosas
Detalhe das folhas e flores em vários tons de cor
Manacá-de-cheiro - Detalhe das flores
Manacá-de-cheiro - Detalhe dos botões violeta
Manacá-de-cheiro - Detalhe do tronco
As flores mais velhas são brancas. Veja após a queda.

É uma planta de zonas tropical e subtropical, adaptada a climas quentes, mas tem um melhor desenvolvimento e maior floração em regiões onde há grandes diferenças de temperaturas, com dias quentes e noites frias.

O cultivo do manacá-de-cheiro é feito através de sementes, estacas ou pelo simples transplante de mudas que surgem das raízes de um exemplar maior. Pode ser plantado de forma isolada ou em grupo, servindo para a função de cercas-vivas. Também pode ser cultivada em vasos porém o desenvolvimento não é pleno.

Manacá-de-cheiro, a planta que atrai borboletas

Agora vou explicar porque este post leva o título de "manacá-de-cheiro, a planta que atrai borboletas".

Methona themisto
(Foto da página borboletasbr)
Este é um detalhe único e pouco revelado. Existe na natureza uma borboleta conhecida como "borboleta do manacá". Seu nome científico é Methona themisto, só existe no Brasil, e se alimenta e desenvolve exclusivamente nas folhas do manacá-da-serra. Suas larvas, ou lagartas, são negras com listras transversais amarelas e, apesar de se alimentarem das folhas do manacá, não o danificam. Lembrando que esta é a fase evolutiva em que a borboleta mais se alimenta, pois precisará muita energia para transformar-se verdadeiramente em borboleta, sua sobrevivência depende exclusivamente da existência dos manacás.

A fase seguinte será a crisálida, o casulo que poderá ser visto sob as folhas da árvore ou nas imediações dela. Agora não haverá mais qualquer lesão às folhas do manacá-de-cheiro e, como você não destruiu as larvas pois nenhum mal faziam ao desenvolvimento da planta, terá em troca a visita constantes de borboletas únicas, de coloração amarelo, preta e branco e asas transparentes, as Borboletas-do-Manacá.

Manacá-de-cheiro não é manacá-da-serra

Em post anterior falei sobre o manacá-da-serra. A semelhança entre ele e o manacá-de-cheiro fica no nome, formato e tonalidade das flores e mudança de sua cor conforme seu amadurecimento. Quanto aos demais aspectos vale mais saber sobre as diferenças entre essas duas plantas para não confundi-las, pois são diferentes até em sua família e espécie.

As flores do manacá-de-cheiro são menores em relação às do manacá-da-serra, que, contudo, é uma árvore mais alta. Como dissemos, as flores do manacá-de-cheiro desabrocham em tons de violeta e são brancas quando caem. Este é um detalhe muito interessante da natureza, que tem a evolução inversa da coloração das flores no manacá-da-serra, cujos botões são brancos e evoluem até a cor roxa.

Quanto ao aroma, apenas as flores do manacá-de-cheiro possuem o exuberante perfume, que contribui para o seu grande valor ornamental.

E a visita das borboletas? Essa só acontece no manacá-de-cheiro.

Adicionar legenda
Dois belos pés de manacá-de-cheiro vistos da minha janela

Vamos plantar um pé de manacá-de-cheiro em nosso jardim! Em São Paulo há condições climáticas propícias, pouco espaço não é problema para seu desenvolvimento e a beleza e o perfume que você terá irá atrair não apenas as borboletas, mas também o olhar e admiração de amigos e de desconhecidos transeuntes, como ocorreu comigo quando “descobri”os dois pés de manacá-de-cheiro em meu caminho. Agora irei atrás da borboleta para mostrar a vocês.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Ponto de ônibus na Vila Ipojuca, o mais antigo de São Paulo, conserva memória dos anos 60

Vila Ipojuca é um bairro localizado na região da Subprefeitura da Lapa, zona oeste de São Paulo. Nesse bairro, onde se misturam antigas e charmosas casas com modernos edifícios, existe o ponto de ônibus mais antigo de São Paulo, remanescente dos velhos pontos da CMTC (Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo) dos anos 60. Esse tipo de ponto de ônibus aos poucos foi sendo substituído por outros modelos, que nunca chegaram a ter o charme e talvez o conforto dos iniciais. 

Este é o ponto de ônibus mais antigo da cidade

Várias administrações municipais fizeram com que nos dias de hoje não haja um único padrão, podendo ser até mesmo um simples “poste”. Contudo, a dedicação e união da população do bairro e a divulgação na mídia por interessados em preservar a memória de nossa cidade fizeram com que se mantivesse e restaurasse essa memória viva dos pontos de ônibus dos anos 60, vista apenas em fotos de época.

Um dos modelos dos atuais pontos de ônibus e...

... o remanescente dos anos 60. Qual seria o seu escolhido?

O ponto de ônibus a que me refiro fica localizado na Praça Coronel Cipriano de Morais, que é carinhosamente chamada pelos usuários de “Praça do Abrigo”.

A "Praça do Abrigo"

O antigo, o moderno e minha admiração

O ponto de ônibus visto desde a praça

Vista lateral. Observar o formato da cobertura

Outro ângulo, olhando para o interior da cobertura do ponto

Passageiros aguardam a chegada dos ônibus. Estou do outro lado da rua.

O ponto de ônibus embeleza a Praça Cel. Cipriano de Morais

Detalhe das colunas em "V" recém-pintadas e a nova cobertura vermelha

Ao lado do ponto, banca de jornal em mau estado

Único sobrevivente de sua geração foi construído em 1953, na época em que o transporte público era administrado pela CMTC, empresa de prestação de serviços nessa área na cidade de São Paulo criada em 1946 e extinta em 1995. O abrigo é uma robusta construção de ferro fixada na calçada com concreto armado e colunas em forma de “V”, que aconchegam o público que aguarda o transporte. Longo e com uma alta cúpula, protege contra chuvas e agressões do calor, permitindo a livre circulação de ar. Já deu para ficar com vontade de aguardar um ônibus ali?

O ponto já teve sua estrutura com pintura bem e mal conservada, já foi pichado, grafitado, e atualmente, após a restauração, não possui mais o papel de parede decorativo no interior do teto em cúpula, que lhe dava um ar de Capela Sistina. Uma pena!

O ponto adquiriu, contudo, nova cor, e o tom de bege com que foi pintado é o mesmo que caracterizava a identidade da CMTC. Atualmente, em local alto e privilegiado, destaca-se altivo e em pleno funcionamento, no espaço que sempre ocupou.

Movimento constante de ônibus e passageiros

Foto retirada do site SÃO PAULO ANTIGA
Desconhecido forrou o interior do teto com belo papel de parede

Um detalhes que provavelmente não foi observado no momento da nova pintura foi a placa da CMTC colocada na lateral interna esquerda da cobertura. Nela estava inscrito “projetado e construído pela divisão de engenharia da CMTC”. Com muito esforço é possível ler ainda alguma das letras, que agora também estão cobertas pela tinta bege, escondendo a origem do ponto.

Após tratar a foto, isto é o que se pode ler identificando a construção pela CMTC

A praça está em más condições de conservação e os floridos arbustos que adornava o ponto já não existem mais.

Os moradores unidos, brasileiros e descendentes dos principais colonizadores do bairro, os imigrantes do Leste Europeu, em especial da Hungria, seguem mobilizando-se agora para preservar também todo o entorno, históricas residências e a memória do bairro.

Com relação ao ponto de ônibus, exemplo de mobiliário urbano de antigas décadas, a solicitação de tombamento está aguardando uma posição das autoridades. É um patrimônio não apenas da Vila Ipojuca, mas da memória paulistana e da história da CMTC.


Está tudo ali, basta apenas conservar.

Banca de jornal, boa sinalização e passageiros aguardando num banco 

Lá no final  da foto vemos o ponto de ônibus da Vila Ipojuca