sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Planetário do Ibirapuera - Dicas de visitação 2016

Planetário Aristóteles Orsini
O Planetário Aristóteles Orsini, o planetário do Ibirapuera, foi reinaugurado no dia do aniversário de São Paulo, 25 de janeiro de 2016. Permaneceu durante três anos em reformas profundas tais como adequação do ar condicionado, reforma da parte elétrica e da complexa hidráulica, além de manutenção da estrutura como pisos e cúpula.

Seu projetor StarMaster é da empresa Carl Zeiss e seu modelo “planetário” é o verdadeiro responsável pelo nome Planetário. Com 9 mil fibras ópticas e 42 conjuntos de lentes permite a visualização do céu de qualquer parte do mundo no momento, passado ou futuro, bastando programá-lo para isso.

O planetário StarMaster

Inaugurado em 26 de janeiro de 1957, foi o primeiro planetário da América Latina, sendo que o prédio é tombado pelo Conselho Municipal de Tombamento e Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat).

A curiosidade sobre o universo e a magia que o céu exerce sobre pessoas de qualquer faixa etária, associadas às caras memórias das antigas exibições além da extensa divulgação sobre a reabertura do Planetário, fizeram com que uma multidão se concentrasse diante de sua entrada para conferir a “novidade” da cidade.

Como no momento deste post estamos a quatro dias do evento inaugural, algumas dicas para a visitação podem evitar uma ida frustrada ao Planetário, uma vez que a busca por suas sessões promete ser intensa por bom tempo.

1. Localização do Planetário

Fica dentro do Parque do Ibirapuera, zona sul de São Paulo, na Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº

2. Como chegar ao Planetário

Se você estiver a pé o melhor acesso é pelo Portão 10. Se estiver de automóvel entre pelo Portão 3 para alcançar a área com estacionamento ao lado da Marquise. Outra opção de estacionamento, discretamente mais distante é a entrada pelo Portão 7A, na Avenida República do Líbano, ao lado do Viveiro Manequinho Lopes.

Cada folha de zona azul tem duração de 2 horas dentro do Parque e há guarita nos locais de estacionamento com funcionamento durante todo o horário em que é necessário utilizar o talão de zona azul. Também há muita fiscalização. Não descuide.

3. Horário das sessões

Durante os meses considerados de férias, Janeiro, Fevereiro, Julho e Dezembro, o planetário terá quatro sessões diárias (10h/12h/15h/17h), de terça a domingo e feriados.

Nos demais meses as sessões serão apenas aos finais de semana e feriados. Atenção, agora é um bom momento para visitar devido à variedade de dias e horários. Não perca.

Sessões para escolas ocorrerão a partir de março, sob agendamento e apenas durante a semana.

Contato: 11 5575-5206 ramal 5 ou 5575-5425

4. A dica mais importante: com que antecedência devo chegar?

Nos sites da Prefeitura, do Parque e do próprio Planetário é solicitada antecedência de 30 minutos para retirada de senhas. Desista, não funciona. Na verdade a retirada das senhas ocorre no momento da abertura da porta de entrada, que acontece 30 minutos antes do início da sessão. O público, adultos e crianças, chegam ao local muito antes e aguardam sentados no chão para ter chance de entrar. Se você aparecer por lá apenas meia hora antes da sessão seguramente não conseguirá entrar e terá que aguardar a apresentação seguinte, em pé ou no chão.

Vale o que está no site parqueprefeitura.org , lá no item 9 de como funcionava antigamente. Comparecer ao local com 1 hora e 15 minutos de antecedência. Tomei essa conduta e para a sessão das15 horas de um dia de semana já havia mais de 100 pessoas aguardando quando cheguei.

Ainda sobre a fila, cabe dizer que idosos e crianças menores de dois anos (não indico) têm uma bilheteria prioritária, que fica do lado oposto da bilheteria geral. De qualquer forma corra porque a porta é uma só e entra um de cada vez. Cada idoso tem direito a um acompanhante na prioridade.

Porta única reflete a espera para abertura. Bilheterias ficam ao lado.
Vista lateral do projetor
Detalhe para uma das lentes do projetor
Muitas cores no céu aguardam o início da sessão

 5. O ingresso é gratuito para todos. 

6. Enquanto aguarda o início da sessão

Meteorito Santa Luzia - Brasil - 1921

Dentro do Planetário você terá então 30 minutos para admirá-lo. É pouco. Deixe para o horário de saída. No piso da entrada há uma pequena mostra de meteoritos, com destaque para o meteorito Santa Luzia descoberto no Brasil no ano de 1921. Durante a apresentação do Planetário ele é citado com destaque. E aqui vai mais uma dica: a voz do locutor informa que o meteorito se encontra na Escola de Astrofísica, mas ele foi trazido para ser exposto no Planetário. Seu peso de 22 kg deve ter sido o responsável pela única parte de madeira arranhada no móvel onde se encontra.

7. Vamos entrar e escolher um lugar para sentar?

Duas portas estavam abertas para entrar na sala de projeção, após passar pela entrada do Planetário. Todos os 320 assentos (e não 300) são poltronas especiais que permitem plena observação da projeção, que ocorre na abóbada.

Alguns detalhes, contudo, posso informar. Os assentos que ficam mais à frente, perto do projetor, são mais inclinados e os de trás, perto das portas, possuem menor inclinação. Fica ao seu gosto o que lhe dará maior conforto. Na prática há pouca diferença.

A projeção como um todo pode ser vista de qualquer localização de seu assento, porém em raros momentos há uma direção. O sol se põe e nasce obviamente em locais diferentes e é possível que o projetor esteja tampando sua visão especialmente se estiver sentado na frente.

No início há uma animação explicativa com a projeção de um robô simbolizando o projetor planetário (novamente não se esqueça que é o nome desse tipo de equipamento). Se quiser ver a animação de frente escolha para sentar-se em frente ao balcão de projeção que é facilmente identificável ou em seu lado oposto, onde fica a parte anterior do projetor com todas as letras que o identificam voltadas para você. 

Frente do projetor. Mesa de projeção ao fundo

8. A monitoria é exemplar. Os solícitos monitores caminham pela sala dando instruções e avisam em seus microfones sobre todos os próximos passos, inclusive com uma contagem regressiva para o início da sessão. Também podem ser questionados após o término para esclarecimento de dúvidas (nem sempre esclarecidas). 

9. O que é proibido
É proibido comer na sala. Fotos são permitidas até o início da projeção. Desligue o celular ou guarde-o no modo silencioso. Não tente fotografar a projeção, primeiro porque a sala é completamente escura e atrapalhará os demais e também porque não conseguirá imagens adequadas. Há supervisão quanto a isso.

10. Duração
A duração da projeção é de 40 minutos. Atente que as portas apenas abrem para fora e isso quer dizer que se sair não poderá mais entrar, mas que será acompanhado para sair durante a projeção se necessitar. Programe todas as suas necessidades antes. Também não é possível entrar atrasado, pois qualquer claridade comprometerá a visibilidade e as sessões são pontuais.

11. Além da projeção

Por esta porta posicione-se à esquerda

Observe o saguão lateral e o mezanino
Belo caminho para o mezanino

Cúpula e  seu revestimento de madeira
A cúpula vista no mezanino. Detalhe para compreender a imagem anterior

Reflexo do parque no revestimento interno de granito

Relógio antigo sem o pêndulo. Qual será sua história?

Agora que você já aproveitou a emocionante apresentação (não vou contar nada) pode admirar o meteorito Santa Luzia e subir a ampla escadaria que o levará ao mezanino localizado no pavimento superior à sala de projeção. Embora o mezanino esteja destinado a futuras exposições você terá uma bela vista do parque através de suas janelas e poderá admirar o revestimento de madeira aparente que envolve a cúpula de concreto e está novinho. Não deixe de subir. 

Há um elevador panorâmico para auxiliar pessoas com limitação de locomoção, mas não parece estar em funcionamento ainda.

12. Por fim você deve saber que está planejada mudança na programação a cada três meses, então poderá consultar antes de ir. No momento, mas não unicamente, o destaque é para o estrelado céu de verão da cidade de São Paulo.

Tenha um bom passeio!


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Pavilhão Japonês e o aniversário de São Paulo

Foi assim há 62 anos, é assim agora.

No ano de 1954 o Pavilhão Japonês foi doado à cidade de São Paulo para celebrar o IV Centenário de sua fundação, como um monumento símbolo de amizade entre japoneses e brasileiros. Ele foi construído pelo governo japonês em conjunto com a comunidade nipo-brasileira, que é a maior comunidade japonesa fora do Japão e tem em São Paulo a cidade mais populosa.

O prédio foi construído no Japão, desmontado, transportado de navio e montado novamente em São Paulo sob coordenação da Comissão Colaboradora da Colônia Japonesa Pró-IV Centenário de São Paulo, no mesmo ano em que estava sendo inaugurado o Parque do Ibirapuera, onde foi instalado.

O modelo utilizou como referência o Palácio Imperial Katsura (Katsura Rikyū), residência imperial de verão em Quioto, antiga capital do Japão, e construído pela Construtora Takenaka no Japão. O projeto do Pavilhão é do arquiteto japonês Sutemi Horiguchi, da Universidade Meiji.

Para descrever o prédio devo dizer que possui características construtivas próprias de cultura arquitetônica utilizada no Japão originalmente nas residências da aristocracia e samurais, com madeiras perfeitamente encaixadas, sem a utilização de pregos até os materiais utilizados originários do Japão tais como as madeiras, pedras vulcânicas do jardim e lama de Quioto. Um trabalho que exige muito conhecimento e precisão de mestres da carpintaria.

Fachada do Pavilhão Japonês 

Embora essa técnica construtiva permita que a edificação dure até 300 anos e seja inclusive resistente a terremotos, a passagem implacável do tempo torna necessária a manutenção dos materiais e o controle de cupins. Algumas ações de restauração já aconteceram e a última, ocorrida agilmente em 20 dias, terminou a tempo de ser entregue aos paulistanos para o aniversário de 462 anos da cidade. Dia 21 de janeiro de 2016 o Pavilhão foi plenamente reaberto, quatro dias antes da data do aniversário. 

A atual reforma que visou preservar toda a estrutura, que é tombada pelo patrimônio histórico, foi coordenada por dois mestres carpinteiros e um mestre em descupinização vindos do Japão e pertencentes à empresa Nakashima Komuten. O presidente da construtora, Norio Nakashima foi um dos carpinteiros.

Visitando o Pavilhão Japonês

O Pavilhão é uma instalação quase que escondido dentro do Parque do Ibirapuera, que ocupa uma área de 7.500 m². Com uma entrada discreta que até destoa das instalações do Parque, o Pavilhão se apresenta ao visitante como um amplo local de sossego e relaxamento, além de guardar obras de arte tais como é o próprio prédio.

Entrada a partir de um desvio da pista principal do Parque do Ibirapuera

Na primeira placa o nome Sakurá (ou cerejeira), a flor nacional do Japão

Jardim ás margens do lago do Parque do Ibirapuera
Localizado às margens do lago do Parque do Ibirapuera, o Pavilhão é composto por um edifício principal suspenso, que se articula em um salão nobre e diversas salas anexas, passarela para o salão de exposição, jardins e o famoso e belo lago de carpas. O Pavilhão ocupa uma área de 7.500 m² e é composto de um edifício principal suspenso por palafitas, e diversas salas, como a sala para cerimônia do chá, corredores, salão de exposições e recintos de serviço, além de um lago com carpas, jardins interno e externo.

Os jardins estão em todo o redor do Pavilhão e foram inspirados nos tradicionais conceitos japoneses. No jardim maior, avistado logo à entrada, há muitas cerejeiras e bonsais e outras plantas ornamentais, com espécies vegetais nativas do Japão devidamente identificadas, além, é claro, da belíssima vista para o lago.

Um detalhe notado na área do jardim é a presença de várias placas e marcos comemorativos de datas de relevância para o local ou de visitas de destaque. Apenas na entrada do edifício existe um grupo de 7 placas. Contei no mínimo cinco marcos também dispostos pelos jardins, porém não garanto que não existam mais.

Monumento à criação e criadores do Pavilhão

Pinheiro japones plantado por príncipes em visita em 1967

Acessei o Pavilhão por uma escadaria de madeira, forrada de vermelho, que conduz à varanda. Esta beira um lago com águas verdes e uma pequena cachoeira entre pedras, estado protegida por uma rede. Cheguei ao Lago das Carpas, que é uma das grandes atrações do local. São cerca de 300 carpas multicoloridas que vieram do Japão. As grandes são as adultas e podem viver até 70 anos, o que lhes permite simbolizar a longevidade.
Você poderá alimentá-las com uma ração especialmente preparada pelo criador fornecida no local e é sugerido que bata com o pé na madeira da varanda para que as carpas se aproximem. Na verdade, parece que elas já sabem onde está o alimento e se concentram bem perto do visitante.

Um detalhe sobre as carpas é que as carpas coloridas foram introduzidas no Brasil a partir pavilhão japonês, há 40 anos.

Embora o lago tenha sido construído na mesma época em que o Pavilhão, ele recebeu as primeiras carpas coloridas no início da década de 70, graças à iniciativa da Associação Brasileira de Nishikigoi e ao intercâmbio com criadores de várias províncias japonesas.

Acessando o Lago das Carpas

À direita está a varanda. Madeiras novinhas.

Cascata do Lago das Carpas

Carpas com muitas cores e tamanhos

Na bela varanda o reflexo dos visitantes-fotógrafos

A partir do alto da edificação, de onde se avista o lago das carpas, você agora entrará novamente no interior do pavilhão a partir do salão principal, que demonstra os recintos que existem na casa tradicional japonesa. Bela com seu piso de tatame está a Sala de Cerimônia do Chá (chashitsu), também inaugurada em 1954.

É para admirar de longe e seguir a visita, embora o espaço seja oferecido para a realização da cerimônia em momentos agendados.

Agora você terá acesso a uma ponte de madeira que conduz o visitante do Pavilhão ao Salão de Exposições.

Mas esta não é uma simples ponte, pois carrega a simbologia da união entre dois povos de culturas tão diferentes. Por essa ponte com laterais vazadas pode-se avistas os jardins internos do Pavilhão Japonês. A leste está o jardim japonês e a oeste o jardim brasileiro. No jardim brasileiro observam-se espécies exclusivamente nativas, identificadas e com toda a exuberância, abundância e cor. No jardim japonês está a sobriedade, clareza e planejamento.

Ponte de madeira entre os dois jardins

De um lado da ponte está o jardim japonês 

Outro ângulo do jardim japonês para contemplar

Do outro lado da ponte está o exuberante jardim brasileiro

Flores de Orelha-de-Onça apontam o pavilhão principal.
Palmito Jussara indicado com o número 3, à direita

Descendo para a exposição

Já do outro lado da ponte elevada, agora desceremos nova escadaria que conduzirá ao Salão de Exposições. A partir daqui não é mais permitido fotografar, não sei exatamente o porquê, pois fotos de todos os ambientes são abundantes na internet.

No salão há uma pequena loja com livros e alguns poucos objetos e a seguir, passando por uma porta à direita, estão expostas obras diversas da memória cultural japonesa pertencentes ao acervo do Pavilhão. São peças em cerâmica de várias épocas a partir do século XI, bonecos em terracota do século V (Haniwa), armaduras e espadas de samurais e outros objetos típicos desse povo. Sempre em balcões protegidos por vidro há também amostra de pintura em rolo, algumas máscaras,

Detalhe para um grande e belo sino, outro marco comemorativo, o “Sino do Amor”, agora um presente da cidade de Osaka para São Paulo em comemoração a 40 anos de fraternidade e convênio entre elas.

Uma agradável e suave música sempre nos acompanha pelos cômodos.

No mesmo salão ocorrem também exposições temporárias e, neste momento de reinauguração a mostra de chama “Olhar Japonês no Brasil”, que reúne obras de artistas de diferentes manifestações culturais tais como cerâmicas, arte em metal, Ikebana, Bonsai e concertos de música clássica japonesa.

Saindo novamente para os jardins do Pavilhão, segue-se admirando os bonsais, no momento da visita em grande número e variedade devido à exposição. Detalhe para a curadoria da exposição de bonsai do dedicado, respeitado e muito gentil Márcio Augusto de Azevedo, que não descende de japoneses, mas é um apaixonado por sua arte, que pratica há mais de 20 anos.


Fachada do salão de Exposições

Grande pedra celebra cem anos de amizade Brasil-Japão.
Tem um ipê roxo de um lado e uma cerejeira do outro.

Exposição de bonsais

Bonsai com 6 anos na mão de Márcio Augusto

Bonsai Ficus carica, com 80 anos

Monumento Estrondeio do Trovão

Jaboticabeira

Ao longe à esquerda está a ponte sobre o lado do Parque


Caminho para os fundos do Pavilhão. Obras "Tôro I e II".

"Flores" de Ivone Shirahata

Caminhe, relaxe, admire a natureza e transporte-se ao que é mostrado no pavilhão. Se deseja agradar as crianças, leve-as ao tanque de carpas para alimentá-las.

Uma visita imperdível num local instalado dentro de um dos cartões postais mais queridos da cidade, o Parque do Ibirapuera.

O Pavilhão Japonês é um dos raros pavilhões fora do Japão a manter suas características em perfeito estado de conservação.

Serviço

Local: Parque do Ibirapuera - portão 10
(próximo ao Planetário e ao Museu Afro Brasil - mapa no final desta página)
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - São Paulo - SP
Funcionamento: quarta-feira, sábado, domingo e feriados
Horário: das 10h às 12h e das 13h às 17h

Contribuição adulto: R$ 10,00
Estudante com carteirinha: R$ 5,00 / Crianças de 5 a 12 anos: R$ 5,00
Idosos de 60 a 65 anos: R$ 5,00 / Crianças até 4 anos e idosos acima de 65 anos: isento

Quer saber qual a programação do momento?
(11) 5081-7296 /(11) 3208-1755
ou pavilhao@bunkyo.org.br

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Mirante 9 de julho resgata mais um olhar para são paulo e sua história

A cidade de São Paulo ganhou em 2015 mais um mirante para ser admirada e que conta uma antiga e importante história. Antes de visitarmos, contudo, o Mirante 9 de Julho, espaço multicultural, gastronômico e de importância histórica, localizado sobre o túnel homônimo, vamos rever um pouco sobre como esse local surgiu.

O túnel 9 de julho existe desde a década de 30 e foi o primeiro túnel urbano da cidade. Projetado pelo engenheiro Domingos Marchetti, tinha como objetivo unir a zona central da cidade, o Vale do Anhangabaú, à zona sul. Embora a região sul ainda tivesse apenas chácaras e casas que ocupavam quarteirões inteiros e fosse passagem de tropeiros, já prometia expansão para a cidade, previsto no famoso, premiado e também controverso “Plano de Avenidas” de Francisco Prestes Maia.

Antes da existência do túnel, que foi assim denominado em homenagem à data de início da Revolução de 1932, o local era um vale chamado Vale do (riacho) Saracura com vastas áreas de vegetação e inicialmente também o córrego Saracura, sobre o qual foi posteriormente construída a Avenida 9 de Julho. Antes da existência do túnel era necessária a difícil passagem pela subida do espigão da Paulista para alcançar o outro lado do vale.

O túnel foi inaugurado em 1938 pelo então prefeito Prestes Maia com a presença do presidente Getúlio Vargas. Sua extensão atual fornecida pelo Município é de 1045 metros no sentido centro-bairro e 1060 metros no sentido bairro-centro com seus 460 metros de comprimento.

Pois bem, nessa época ainda não existia seu vizinho MASP (Museu de Arte de São Paulo), mas no local havia uma grande área pública erguida em 1916 com várias instalações recreativas, chamada Belvedere Trianon, onde a elite paulistana tinha uma vista abrangente do Vale do Saracura. Com a crise do café o elegante Belvedere foi modificando e popularizando suas instalações até fechar as portas em 1961. Em 1968 foi inaugurado o MASP, com a ressalva de que o mesmo deveria deixar o vão livre para o mirante, que contava agora com a vista do topo do túnel com sua elevada torre de observação e da Avenida 9 de Julho já pavimentada.

A manutenção do crescimento desorganizado da cidade e do desenvolvimento populacional fez com que, em meados de 1970, o então prefeito Paulo Maluf “decapitasse” a torre de observação que se elevava acima do túnel. Retirou sua parte mais alta nivelando a torre com a laje sobre o túnel de forma a construir vias para automóveis para desobstruir o trânsito na Avenida Paulista. Nasceu aí um viaduto sobre o túnel, o Viaduto Bernardino Tranchesi, assim denominado desde julho de 1971 em homenagem ao professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo morto naquele ano.

Túnel 9 de Julho com a torre de observação intacta
Foto obtida da página do Mirante.
Túnel 9 de Julho em 2016 com a torre "decapitada".
Acima o Viaduto Bernardino Tranchesi. Ao fundo o MASP
 Para completar a “aventura” desse histórico túnel pelo qual tantos paulistanos passam diariamente sem mal notá-lo, além da deterioração crescente do local, no ano de 2001, ele foi rebatizado de Túnel 9 de Julho para Túnel Daher E. Cutait, pela prefeita Marta Suplicy. A homenagem à Revolução de 32 foi substituída pela homenagem a um ilustre professor e doutor do Hospital Sírio-Libanês, recém falecido. Homenagem justa, mas não nesse endereço!

Túnel Dahrer E. Cutait ou Túnel 9 de Julho? Está na placa

Mirante 9 de Julho

O Mirante 9 de Julho faz parte de uma série de iniciativas da Prefeitura, que visa à recuperação de espaços abandonados/degradados e de desenvolvimento sociocultural de São Paulo.

O projeto de revitalização urbanística do Mirante compreende intervenções em uma área que abrange o complexo do Túnel 9 de Julho e seu entorno, composto por uma sala de observação acima do túnel, uma escadaria e duas praças com chafarizes localizadas nas laterais das vias da Avenida 9 de Julho. Em estilo art déco, o conjunto arquitetônico passou décadas abandonado e sendo frequentado por moradores de rua e dependentes químicos, tanto que a escadaria era conhecida como “Escada da Maconha”.

A primeira fase da intervenção concluída foi exatamente a restauração dessa sala de observação, que foi chamada Mirante 9 de Julho, bem como dos acessos a ela. A inauguração ocorreu em 23 de agosto de 2015.

Localizando e acessando o espaço

Se você estiver na Avenida 9 de Julho na altura da entrada dos túneis, do lado bairro, basta olhar para cima, no topo do túnel, que é exatamente o local do Mirante. Contudo, para ter acesso a ele a partir da referida avenida é necessário subir as escadas laterais e para isso você precisará estar a pé ou ter chegado de ônibus.

Uma referência de mais fácil acesso é a partir da Avenida Paulista. Chegue na altura do MASP, pois o Mirante está localizado bem atrás do museu embora, mesmo estando a um quarteirão do local, ainda não o avistará devido à presença do Viaduto Prof. Bernardino Tranchesi.

Prefira transporte público, mas, se estiver de condução própria, aviso que não há muito como estacionar ao redor então deixe o automóvel na região da Paulista. A seguir é só descer uma das ruas laterais do MASP e alcançar a Rua Carlos Comenale, que é a referência de endereço do Mirante. Nessa rua está a Praça Geremia Lunardelli, que fica bem em frente à escadaria de acesso ao Mirante.

Entrada do Mirante a partir da Rua Carlos Comenale
Detalhe da  indicação do Mirante
Acima da escadaria mapas de São Paulo recebem as bicicletas
Escaria de acesso ao Mirante sempre sendo utilizada
Seguimos descendo após a grande escadaria
Lateral esquerda a partir da escadaria.
Abaixo parte da Avenida 9 e Julho. Acima o Viaduto Bernardino Tranchesi

Sobre a revitalização do Mirante

O projeto de restauro e requalificação do Mirante ocorreu mediante parceria público-privada entre a Prefeitura de São Paulo e o grupo Vegas, do empresário Facundo Guerra em conjunto com o escritório MM18 Arquitetura, de Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira.

De acordo com seus idealizadores, “os novos equipamentos criados no local foram somente para atender a necessidade do novo uso: cozinhas, um bloco de sanitários, novos sistemas hidráulico e elétrico e iluminação urbana. Os materiais originais foram restaurados, como: pedras portuguesas, granilite do piso e acabamento da estrutura”. Tudo foi revitalizado, tanto internamente quanto no entorno, com recuperação do paisagismo original. O planejamento do local foi definido de modo que fosse o mais flexível possível para atender diferentes eventos, exposições e ocupações.

Visitando o espaço

Por fim esta escadaria o conduzirá a dez metros abaixo do nível da calçada de acesso e à belíssima vista que o Mirante permite: a Avenida 9 de Julho, os belos chafarizes laterais desativados e todo o antigo Vale do Saracura, agora ocupado pelos edifícios da cidade, alguns facilmente identificáveis. Acima, o Viaduto Professor Bernardino Tranchesi, para refletirmos sobre os sacrifícios da urbanização de nossa cidade.

Numa área aconchegante e linear está o Mirante. Instalado na lateral esquerda está o café Isso É Café e no canto oposto o restaurante Mercado Efêmero. No Café, produtos orgânicos e bons doces como o cheesecake com calda de amora. No restaurante, refeições saborosas em cardápio enxuto, ambos prometendo manter preços convidativos, o que por ora é verdadeiro. Há cervejas artesanais e quando fui também um carrinho com vinhos da região de Mendoza, que permanece fechado até o final da tarde. Entre ele, mesas,cadeiras e bancos de madeira num espaço aberto e arejado e, é claro, a bela vista do Mirante, protegida por vidros.

Detalhe para a "caneca fidelidade", em ágata branca, da Isso É Café. Você compra a caneca por R$20,00 e cada vez que voltar ao local ganha 50% de desconto nos cafés coados e outras promoções, segundo fui informada.

Tudo até agora muito à vista, mas, entre vidros e móveis, protegido por um cordão vermelho está um detalhe do local. A Escadaria Histórica, localizada dentro da torre entre os dois túneis. O que se vê inicialmente isolada pelo cordão vermelho é uma pequena abertura, um “buraco” como se houvesse antigamente um elevador, chamado Galeria Vertigem. A partir daí serão 100 degraus de madeira conservada, com corrimão, numa escadaria muito estreita em espiral com paredes sem acabamento, mas também sem o odor de mofo que imaginei que tivesse. Sua extensão alcança a Avenida 9 de Julho, onde está a pequena galeria, e para retornar só subindo os mesmos 100 degraus. Seguramente não indicada para claustrofóbicos, posso dizer que, embora com acesso fechado, fui gentilmente acompanhada por um funcionário do local para poder conhecê-la. Escadaria 1932! Esse é o nome. Ela foi descoberta durante a reforma. Qual será a sua história?

 A escadaria também não é utilizada apenas como acesso ao Mirante, mas para descanso, para realização de belas fotos do antigo vale do Saracura e como assento nas apresentações culturais.
Por fim, acima do Mirante fica a laje, destinada agora a apresentações musicais e artísticas em geral.

Agora algumas imagens

MASP, escadaria e... já começaram as pichações
Portões da escadaria abertos. A cidade moderna.
Avenida 9 de Julho esconde o Rio Saracura.
Trânsito no Viaduto Bernardino Tranchesi acima da laje cinza.
Vista da entrada do Isso é Café
A "caneca fidelidade"















Luminoso do restaurante





Vamos olhar a cidade?


Pista centro-bairro da Av. 9 de Julho. Canteiro e laterais abandonados
Chafariz seco mas ainda belo aguarda revitalização

Placa identifica a Galeria Vertigem

Entrada para a escadaria em espiral que conduz à Galeria

Estou aqui para mostrar o caminho. Estreito e profundo!

Abaixo do viaduto está a laje onde ocorrem eventos culturais

Quanta história por traz daquelas janelas discretas!
Coluna à esquerda é a torre com a Escadaria 1932.

E aqui temos um novo mirante na cidade para resgatar a memória de belos locais esquecidos e nos trazerem um pouco mais da história de São Paulo. Recém aberto sim, mas seguramente não será o último.

Serviço:
Entrada: gratuita
Horários:
Espaço Cultural: das 10 às 22h – terça a domingo (e feriados).
Restaurante O Mercado: das 12 às 22h – terça a domingo (e feriados).
Café e bar Isso é Café: das 10h às 18h (Café) | das 18 às 22h (bar) – terça a domingo (e feriados).
Telefone: (11) 3111-6342