terça-feira, 30 de junho de 2015

Paris-Belfort e Cesar Ladeira, hino e voz da Revolução Constitucionalista de 1932

Durante o período da Revolução Constitucionalista de 1932, a chamada “guerra paulista”, a Radio Record de São Paulo, solidária e engajada com a causa revolucionária, atuou como instrumento de propaganda e transmitia diariamente informações sobre o combate, com a marcha Paris-Belfort servindo de fundo.

Recordando que naquela época o rádio era o único meio rápido de comunicação de massa, as mensagens eram muito aguardadas pela população paulista, que tinha, na maioria, alguns de seus familiares em campo de batalha, bem como pelo país todo para se atualizar.

Ao som da marcha Paris-Belfort foi noticiado o falecimento dos quatro primeiros heróis constitucionalistas: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (MMDC).
Durante todo o período da Revolução Constitucionalista, no horário das 2 às 4 horas da madrugada, notícias sobre o desenvolvimento da revolução e mensagens de civismo, com aclamação do espírito patriota conseguiam contornar a censura de Vargas e chegar aos lares paulistas.

Ajudando a formar o ambiente revolucionário diversos hinos foram compostos, bem como outros hinos da revolução de 1930 eram também executados. Mas foi a reprodução diária na rádio Record da marcha francesa “Paris-Belfort”, de autoria de Antonin Xavier Farigoul, emoldurando as locuções de Cesar Ladeira que a consagrou como o “Hino da Revolução Constitucionalista de 32”.

Assim também, Cesar Ladeira ficou eternizado como “A Voz da Revolução”, e a rádio Record, como “A Voz de São Paulo”.

Seguramente você conhece a bela melodia, apenas pode não saber sua história. Segue um bom link para ouvi-la.

https://www.youtube.com/watch?v=yqsElkNZOok

Até hoje, nos desfiles e outras solenidades comemorativas da Revolução de 1932 sempre toca a marcha Paris-Belfort, que ganhou letra do poeta Guilherme de Almeida, o “Poeta da Revolução”, e que apresento a seguir.

Paris -Belfort

Nove de Julho é a luz da Pátria
Data mortal deste berço augusto
Dos bandeirantes denodados
Deste São Paulo vanguardeiro e justo

Nove de Julho é a Glória do Brasil
Cantado por São Paulo sob um lindo céu de anil

Nove de Julho é a luz da Pátria
Data mortal deste berço augusto
Dos bandeirantes denodados
Deste São Paulo vanguardeiro e justo

Nove de Julho heróica e bela data
Marco inicial da jornada democrata
Piratininga terra do trabalho
Onde são Reis a enxada e o malho

Pá pa ra ra pa pa ra pa rara ra ra pa pa ra pa Ra

Seu povo altivo vai espalhando
Amor pela pátria e vai cantando
Solo querido terra amorosa
Pátria de bravos sempre formosa


Você pode também acompanhar o vídeo com a letra em http://www.youtube.com/watch?v=awEEQoq735I&NR=1

Um pouco sobre Cesar Ladeira

César Rocha Brito Ladeira nasceu na cidade paulista de Campinas, mudando-se para São Paulo aos 18 anos para estudar direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Abandonou, contudo, os estudos e foi trabalhar como redator no jornal O Diário de São Paulo.
Em 1931 tornou-se locutor da Rádio Record de São Paulo, quando se celebrizou com as personalizadas transmissões em favor da Revolução Constitucionalista.

Naquela época o jornalismo ainda era uma profissão de caráter amadorístico e de futuro incerto e as transmissões radiofônicas eram imperfeitas, porém, César Ladeira adquiriu um estilo próprio inspirado em profissionais do exterior.

Com seu tom de voz grave tinha entonação própria, dicção clara e solene ressaltando as letras “r” e “s” para melhor entendimento de suas palavras, somada ao emotivo envolvimento com a Revolução, transformaram-no num ícone do rádio e fizeram que ele se tornasse “A Voz da Revolução de 1932″.

Era uma época que não existia televisão e o rádio era o principal meio para levar as notícias do campo de batalha até a população. De sua voz marcante as notícias do campo de batalha eram levadas aos lares das famílias paulistas, que costumavam reunir-se ao redor do rádio.

Com a derrota militar e término da Revolução Constitucionalista, Cesar Ladeira foi preso durante 16 dias num presídio no bairro paulista do Paraíso e por intervenção do embaixador José Carlos de Macedo Soares não foi deportado. Nesse período no presídio aproveitou para começar a escrever um livro, como que o primeiro manual dedicado ao rádio no País, chamado ”Acabaram de ouvir”. O raro livro explicava o que era o rádio, como o radialista deveria lidar com o microfone, falava sobre o ambiente nos estúdios e sobre o cotidiano das pessoas com seus rádios.

Em 1933 Ladeira mudou-se para o Rio de Janeiro, sendo contratado como locutor e diretor artístico pela Rádio Mayrinque Veiga e depois pela Radio Nacional do Rio de Janeiro, onde permaneceu longo tempo.

Faleceu em 8 de setembro de 1969, aos 58 anos, vítima de um acidente vascular cerebral.

Seu envolvimento com o ideal constitucionalista de 32 permaneceu, e Cesar Ladeira chegou a gravar um disco LP, com oito faixas dedicadas a poesias sobre São Paulo de 32, escrevendo uma bela crônica chamada “25 anos depois”. Este disco intitulado “São Paulo de 32”, devido à sua importância histórica, está disponível para download gratuito na internet.



quarta-feira, 24 de junho de 2015

Ponto turístico de São Paulo, feira da Praça Benedito Calixto tem realejo para receber os visitantes

Todos os sábados, das 9 às 19 horas, desde o ano de 1987, há uma feira especial na cidade. É a Feira de Artes, Cultura e Lazer da Praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, distrito do Jardim Paulista, conhecida como uma das melhores feiras de antiguidades e artesanato do Brasil. 

O nome da praça é homenagem a um grande artista plástico brasileiro do início do século XX, Benedito Calixto de Jesus.
Era pintor, retratista, professor e historiador. Foi a Paris com uma bolsa de estudos e retornou em 1884 trazendo um equipamento fotográfico que o tornou pioneiro no Brasil na arte de pintar a partir de fotografias.

Todas as semanas a arborizada praça fica repleta de barracas de mais de 300 expositores e visitantes, que calmante passeiam admirando arte, belos objetos de decoração, cultura de várias formas, e aproveitando a praça da alimentação. Há também um pequeno playground na praça, para alegria dos menores.

Chegando à Praça. Placa de identificação do local.

Visitantes observando as barracas da Feira da Benedito Calixto

Peças de vidro produzidas orgulhosamente pelo proprietário da barraca

Na Feira você encontra desde selos e moedas antigas a discos de vinil, brinquedo da infância, roupas novas e semi-novas, muita louça e prataria, e até uma barraca de militarismo, que infelizmente foi a primeira que fechou no dia em que fui e cujo proprietário, que consegui encontrar, não pode me auxiliar na aquisição de objetos da Revolução de 32, mesmo estando a menos de 15 dias da sua data comemorativa.

Alguns projetos artísticos também acontecem por lá e você pode pesquisar as datas e horários de cada um.

Muitos chapéus para muitas imaginações

Arte para alegrar

Barraca de artesanato

Barraca muito procurada
Barraca com belas máscaras 

Olha aí nosso futebol
Comercialização de selos, moedas e outros produtos
Bela construção. Compras e um lanche.

Rua movimentada e sacolinhas nas mãos dos visitantes

 É um local bastante conhecido pelos paulistanos e referência para turistas, mas quero chamar a atenção para um detalhe, e bastante raro, que há por lá. É o realejo. Os mais velhos seguramente recordam de sua musiquinha com som que lembra o de uma flauta e da expectativa de saber sua sorte, porem, os jovens e crianças de hoje têm pouca chance de ver de perto um realejo ou mesmo de saber o que é.

Só para isso o passeio já valeria à pena. O “homem do realejo” é considerado uma das profissões em extinção, que ainda passa de pai para filho e neto.

O realejo é uma caixa musical antiga que fica apoiada em uma haste de madeira e possui um mecanismo semelhante ao das tradicionais caixinhas musicais. Tem origem européia e suas melodias programadas tocam ao girar de uma manivela pelo proprietário e chamam a atenção do público. Em cima da caixa de música há uma gaiola de madeira pintada de amarelo com uma caturrita amestrada, sobre uma gavetinha, também amarela, cheia de papéis dobrados. Esses pequenos papéis podem sem brancos ou coloridos e cada um possui mensagens de amor e esperança no futuro com frases escritas em português antigo, como originalmente. É então que ocorre a magia. O profissional abre a pequena gaveta e pede à cuturrita que escolha um desses papéis para tirar a sorte para você. A ave aponta da gaiola puxando com seu bico um deles. Em seguida o “homem do realejo” coloca o pequeno bilhete para que a ave dê algumas bicadas deixando marcado o papel e então o entrega, ainda fechado, ao destinatário. É uma tradição, uma “coisa antiga”!

E quanto custa tudo isso? R$2,00.

Cuturrita? Quem é essa ave?
A caturrita (Myiopsitta monachus), uma espécie de pequeno periquito verde, é uma ave nativa das regiões subtropical e temperada da América do Sul, sendo conhecida no Brasil por vários nomes conforme a região tais como cocota, periquito barroso ou catorra. Pertence à família Psittacidae como as cacatuas, os papagaios e as calopsitas e tem em comum com elas principalmente o formato singular do bico e a capacidade de agarrar com as patas.

Um detalhe: crítica à exposição de animais periodicamente é encontrada  porém, nas vezes que vi um realejo observei a aves calmas, não mostrando sinais de stress e com gaiolas limpas e bem sortidas de alimentos.

Realejo: a ave escolhe uma mensagem e puxa com o bico
O pequeno papel já marcado pelo bico da ave, é entregue

Vamos ler o que diz a mensagem?
Observando as marcas do bico no papel

Agora as mensagens podem ser lidas

Depois que você já aproveitou tudo o que a praça oferece é hora de passear pelo comércio que se formou no entorno dela, com muitos bares e suas mesas nas calçadas e pequenas galerias comerciais, o que estimula a permanência e convivência dos visitantes.

Algumas barracas não aguardam o anoitecer e fecham antes do horário das 19 horas. Achei uma pena pois os turistas, que são muitos, seguem firmes até o fechamento da última possibilidade de admiração de tantas propostas.


Do alto da Igreja do Calvário todo o movimento pode ser observado

Faça um passeio à praça Benedito Calixto, tome sol, observe detalhadamente as barracas, escolha uma lembrança para si e, é claro, tire a sua sorte no realejo.

sábado, 13 de junho de 2015

Arte barroca na primeira igreja da cidade de São Paulo

A Igreja de Santo Antônio é a igreja mais antiga do centro de São Paulo. Localizada na Praça do Patriarca, próxima ao Viaduto do Chá, as primeiras referencias registradas datam de 1592, especificamente do mês de dezembro.
Fachada da Igreja de Santo Antônio
Mais próximo, segue movimento intenso de pedestres
Detalhe da parte superior da igreja e sino
Abrigou a Ordem dos Franciscanos no século XVII, antes da construção da Igreja de São Francisco, e após, no século XVIII, abrigou a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos.

A Igreja de Santo Antônio passou por várias reformas e intervenções desde a sua construção até assumir a atual fachada neoclássica. Pequena, inicialmente considerada uma capela, passou pela primeira reforma em 1638, para receber os padres franciscanos vindos do Rio e Janeiro.

A segunda reforma ocorreu em 1717, dirigida pelo primeiro bispo de São Paulo, Dom Bernardo Rodrigues Nogueira, ajudado pela população de devotos. Suas instalações foram ampliadas e modificadas e a capela foi elevada à categoria de igreja.

A Irmandade de Nossa Senhora dos Homens Brancos, fundada em 1774, foi a responsável por várias reformas que alteraram suas feições do tempo. Um incêndio no prédio vizinho, ocorrido em 1891, danificou e consumiu parte da igreja, obrigando a realização de nova intervenção arquitetônica, com demolição de sua fachada e torre e construção de outras.

Quase 100 anos depois do término dessa reforma, em 1991, outro incêndio danificou os fundos do edifício.

A igreja de Santo Antônio, bem como seu altar, foi restaurada pela última vez em 2005. Conforme escrito na placa explicativa em sua entrada, “na última restauração foram descobertas intervenções de diversas épocas no interior, e optou-se por recuperar as feições barrocas: hoje estão à mostra pinturas do século 17, além do altar e estilo rococó de 1780”.

Interior da igreja com detalhe da pintura do teto
Fotos não centradas para proteção dos fiéis.
Predomínio das cores vermelho, amarelo e dourado.
Detalhe do piso da igreja
Altar-mor da Igreja de Santo Antônio
Administração: Desde 1904 está sob a administração dos padres escalabrinianos da Pia Sociedade dos Missionários de São Carlos Barromeu.
A Pia Sociedade dos Missionários de São Carlos foi fundada pelo bispo italiano Dom João Batista Scalabrini no ano de 1887, com a principal finalidade de assistir religiosamente e socialmente os italianos que emigravam para as Américas. Era grande observador da realidade de sua época e fundou também a Casa dos Migrantes para acolher os milhões de europeus que deixavam sua pátria em busca de melhor futuro neste país.
Placa de identificação turística na entrada
O prédio é atualmente tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).

O achado barroco revela as características da arte produzida em São Paulo no período colonial e reforça a importância da Igreja de Santo Antonio para a história de nossa cidade.

Vista lateral da Igreja de Santo Antônio, na Praça do Patriarca







quinta-feira, 4 de junho de 2015

Beco do Batman é ponto turístico para paulistas e estrangeiros

Quem circula pelo bairro da Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, provavelmente já passou pelas ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque.


No paralelepípedo da rua
Gonçalo Afonso
O homem-morcego
(imagem do site Alma Paulista)
 É nessas estreitas e tortuosas ruas de ar romântico, conhecidas como Beco do Batman, que está a mais bela galeria de arte grafite a céu aberto de São Paulo.


As paredes das casas dessa viela formada por elas são completamente cobertas por belos grafites e isso é razoavelmente novo.

Tudo começou na década de 80, quando um desenho do homem-morcego apareceu grafitado numa parede daquele canto do bairro, na rua Gonçalo Afonso. A partir daí, estudantes de artes plásticas passaram a pintar os muros da rua com regularidade e, em três décadas, a Vila Madalena passou a ter um detalhe que alegra a paulistanos e turistas.

Já estamos chegando
Grafite e flores para "aquecer"

Olha os morceguinhos
Pareço um morcego?
Detalhes ao redor da saída do cano à esquerda e na calçada 
Um dos acessos ao Beco do Batman
Muros e portões vistos de perto
Uma casa inteira com detalhes de grafite
Muro e poste num alegre trabalho
Minhas cores camufladas na pintura
Rua Gonçalo Afonso: o Beco do Batman
No Beco, detalhes nos muros e calçadas
Fotografar é irresistível
Outra parte do Beco
Olha esta entrada
Grafite em três dimensões
Casa tem muro com plantas naturais e desenhadas
Alguém escova os cabelos na sacada
Sol e sombra e ... mais fotos
Um bolsão no meio do Beco. Alguns carros conseguem uma vaga.
... e o passeio a pé continua
Entrada de um estabelecimento
Atente a cada detalhe desenhado
Uma foto profissional
Outro belo muro
Porta e parede com único desenho
A placa da rua não está das melhores mas olha o Batman aí no poste!
Rua Medeiros de Albuquerque
Adorei este grafite
Nem parece grafite não?
É uma rua de trânsito normal. Cuidado!
Um passeio pelo Beco do Batman para ver a arte urbana que está desenhada com grafite em suas paredes e, é claro, fazer algumas fotos, é obrigatório mesmo para quem não considera o grafite como uma arte. É uma atração em constante movimento, pois os desenhos são modificados periodicamente, é um símbolo do bairro e um local onde você se sente dentro de uma história em quadrinhos.

Vá de preferência num dia ensolarado e de final de semana, pois é mais animado. É claro, a pé.

Agora minha vez de posar
Mistura de cores e imagens. Seguem detalhes na calçada.
 Ao redor você encontrará muitas opções para lanches ou refeições e compras. Fui ao armazém-restaurante Lá da Venda. Um charme, comida boa. Recomendo.

Neste post mostrei o intenso colorido, a variedade de imagens e estilos das pinturas que lá existem, e que é cenário constante para fotos pessoais, turísticas e também de publicidade. É um passeio tranquilo, ao ar livre, que dura quanto tempo você quiser. Vá conferir!

Até na boca de lobo. Brasil, é isso aí!