terça-feira, 28 de abril de 2015

Espatódea: a árvore das grandes flores vermelhas


No Brasil existem muitas espécies de árvores floríferas que são usadas em paisagismo de espaços públicos ou, mais freqüentemente, plantadas em calçadas de ruas e avenidas.  

       Uma grande árvore, tipicamente tropical, porém de origem africana, com imponentes flores vermelhas, é muito vista pela cidade. É a Espatódea, tão comum e de nome difícil, também é conhecida como Tulipa-africana, Tulipeira, Árvore Tulipa, Bisnagueira e Chama-da-floresta.

Trata-se de uma árvore de médio a grande porte e copa densa, podendo alcanças até os 25 metros de altura. O tronco apresenta um diâmetro de 30 a 50 cm, tem a madeira mole, casca fina e cor clara.

Espatódea
Detalhe do tronco
Espatódeas em rua da cidade
Espatódeas crescem em meio à vida da cidade
Árvore com  vista mais próxima
A espatódea é uma planta rústica e resistente, com grande capacidade reprodutiva. De crescimento rápido e fácil, sua primeira floração ocorre quando a árvore apresenta 3 a 4 anos.

O período de floração varia com a localidade onde a planta se encontra, sendo que em São Paulo as flores chamam a atenção no verão e outono. Podem contudo acontecer pequenos momentos de floração em outras épocas do ano.

O nome científico da espatódea é Spathodea campanulata, e ela pertence à família das bignoniáceas.

A espatódea possui raízes muito agressivas e seus galhos caem com freqüência. Por esses motivos precisa ser bem localizada, em espaços amplos e bem abertos.

As folhas são grandes, opostas e compostas por numerosos folíolos alongados e ovalados.

Sem dúvida o destaque são as flores. Grandes e em formato de cálice, as flores têm coloração vibrante vermelho-alaranjada e, mais raramente podem ser da variedade amarela. São agrupadas em cachos e ficam localizados no alto da copa da árvore, com as pontas voltadas para cima.

Flores apontam para cima
Detalhe da densa folhagem
Flores e folhas
Detalhes das flores: possuem cinco pétalas unidas entre si, compondo uma corola em forma de sino, parecidas a uma tulipa. As bordas das pétalas têm um contorno amarelo característico e o interior da flor tem várias tonalidades de vermelho, laranja e amarelo, clareando até o interior da corola.
Flor em perfil mostra suas cores
Detalhes amarelos nas bordas das pétalas
As flores da espatódea desabrocham em cachos, cujos botões externos abrem primeiro, e os internos abrem depois, garantindo uma longa floração. 

Os frutos se assemelham a vagens e contém numerosas sementes aladas, que se dispersam com o vento.

Espatódea alaranjada e amarela, com nervuras mais escuras no interior
Bela árvore entre fios elétricos e construções de São Paulo








domingo, 19 de abril de 2015

Bairro de Campo Belo abriga imóveis tombados de Vilanova Artigas

Quem passa rapidamente pelo bairro residencial de Campo Belo, na zona sul de São Paulo, provavelmente notará as ruas largas e arborizadas, os novos e modernos edifícios residenciais que foram construídos em pouco tempo e também as obras do monotrilho. Contudo, uma caminhada seguramente permitirá a observação de detalhes de uma grande figueira centenária no jardim de uma casa muito envidraçada e de estilo construtivo que a distingue dos demais imóveis do bairro.

Estou falando da residência, na verdade de duas residências, do renomado arquiteto Vilanova Artigas.

Desconhecido por muitos, mas referência para conhecedores de arquitetura e engenharia, João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) foi um arquiteto modernista, referência brasileira de reconhecimento internacional por suas construções das décadas de 1940 a 1970.

Engenheiro-arquiteto formado pela Poli-USP, nasceu em Curitiba (Paraná), porém seu nome ficou associado ao movimento que se convencionou chamar de Escola Paulista, e a cidade abriga grandes obras de sua autoria. Artigas era adepto do brutalismo, vanguarda artística que valorizava o concreto exposto e os materiais de construção em sua forma bruta.

Suas primeiras obras em Curitiba, onde nasceu, datam dos anos de 1940 quando era fortemente influenciada pelos projetos de Frank Lloyd Wright.
Entre suas obras mais conhecidas em São Paulo estão o Edifício Louveiras,  o Estádio Cícero Pompeu de Toledo (estádio de futebol do Morumbi),  e o mais admirado, o prédio em concreto aparente que abriga a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), construído entre 1961 e 1969 e em cuja faculdade foi professor, prédio esse já tombado desde 1982 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo).
Muito conhecido é também a Garagem para Barcos construída em 1976 para o Santapaula Iate Clube, que apresenta claras características da arquitetura da Escola Paulista ou “Brutalismo Paulista”, com grandes vãos livres e estruturas de concreto armado. Menor custo de manutenção também era fator preponderante na escolha dos materiais por Artigas.

Pessoalmente Artigas era membro ativo do Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde 1945 e intelectual preocupado com a questão urbana sobre como a arquitetura poderia contribuir para a construção de uma nova formação social. Após o golpe militar brasileiro de 1964 Artigas foi preso e, a seguir, exilado no Uruguai, de onde regressou na clandestinidade, posteriormente retornando à FAU/USP.

Casa e Casinha do Artigas em Campo Belo - São Paulo

Artigas dedicou-se em sua carreira  inicialmente a projetar casas, com uma visão inovadora e ousada para a época, aderindo ao estilo brutalista, como já falado.
No então afastado bairro de Campo Belo habitado por muitos imigrantes alemães, Artigas adquiriu um lote de 1 mil m² na esquina das ruas Barão de Jaceguai (antiga Rua Rio das Pedras) e Rua João de Souza Dias (antiga Rua Piracicaba).

Casinha
Em 1942, o jovem Artigas, sócio de uma pequena construtora, idealizou a “Casinha”, pequeno imóvel de aproximadamente 128 m² que lhe foi muito caro e era utilizado para passar os finais de semana com sua esposa, pois o bairro de Campo Belo, na zona Sul de São Paulo ainda era distante do centro da cidade, onde morava, e pouco urbanizado. Também é dessa data que foi plantada a figueira, também tombada pelo patrimônio público, bem na esquina. Nessa época líderes sindicais, intelectuais, militantes partidários, artistas e amigos davam vida e agitação à estranha casa.

Casinha de Artigas em Campo Belo - primeira fachada
                                Casinha de Artigas em Campo Belo - segunda fachada
Detalhe da rotação da Casinha em relação ao terreno
Casinha-terceira fachada.
No lado esquerdo da foto, estrutura vermelha abrigou uma floricultura
2015: Estrutura da floricultura da foto anterior já não existe
Figueira centenária e Casinha de Artigas ao fundo
Figueira e Casinha vistas do outro lado da rua
 As principais características da Casinha relacionam-se à sua posição em relação ao terreno. Os chamados lotes paulistas habitualmente eram retangulares, com a fachada na parte mais estreita, e a casa recuada da rua. A Casinha é rodada no terreno em 45º, não sendo paralela às ruas que lhe fazem esquina. Isto como que força a existência de três fachadas para as duas ruas. Seu telhado é assimétrico e há volume grande e destacado para a chaminé e a lareira. “Ela é pequena, feita em tijolo, telha de barro e madeira, estruturada em torno de um núcleo central composto pela cozinha e banheiro, e em torno dele se encontram uma sala em L, um dormitório em mezanino sobre a sala e um dormitório com estúdio rebaixado. Os pisos são em cerâmica”. O trabalho do arquiteto americano Frank Lloyd Wright influenciou Artigas naquele período.
A Casinha localiza-se na rua Barão de Jaceguai 1149.

Casa de Artigas
No ano de 1949, a poucos metros da Casinha, nos fundos do mesmo terreno, Artigas projetou para acomodar a si e sua família, agora com filhos, uma segunda residência, cuja localização exata é na Rua Barão de Jaceguai, 1151. A Casa de Artigas tem área construída de aproximadamente 214 m².

A Casa de Artigas de 1949, um patrimônio urbano, possui estilo totalmente diferente da primeira e dessa vez, foi Le Corbusier quem lhe serviu de inspiração. A Casa é bem maior que a Casinha, tem uma planta retangular não possui telhado (a cobertura é de laje) ou fachada, não tem muros, e atualmente é cercada por uma cerca viva e outra de arames, por onde pude fazer minhas fotos.

Casa de Artigas. 

Fotografando entre a trama da cerca.
Escritório na parte mais alta.
Escadaria interna, parede envidraçada e os pilares azuis
Extensão do terreno: Casinha à esquerda e Casa de Artigas à direita
Detalhe da calçada do terreno
Detalhe da vegetação
Marco bem na esquina. O que seria?
Vista da calçada oposta. Difícil imaginar o que é de longe.
 Entra-se por um portãozinho de ferro entre muretas de alvenaria pintadas de branco e há um caminho descoberto rente à garagem.

Entrada da Casa com destaque para a chaminé azul
A coberta da casa é assimétrica com o lado maior avançando sobre o escritório, que é o único cômodo que ocupa o segundo andar da residência e por onde se tem acesso por escadaria na sala.

Entre a sala, o escritório, a coberta e a escada, forma-se o espaço da varanda, que pode ser visto nas fotos. Os seis pilares da varanda são azuis e o piso vermelho.
A garagem foi construída em frente à casa.

Vidros, persianas, rede.
Notar a espessura branca que define a forma linear da construção.
Entrada da garegem
Detalhe da rua. Ao alto, faixa remanescente da antiga floricultura.
 Também vou citar o que não é possível ver do lado de fora (pois o filho reside lá). É referido em publicação de Rosa Artigas, arquiteta e sua filha, que “a parede da sala foi feita em tijolos aparentes, a cozinha não tem porta e também não há fundo de quintal. Os quartos são pequenos, mas a sala é enorme, com lareira e uma porta de vidro que dá para um terraço. Essa porta, quando aberta, duplica as dimensões da sala e há um escritório sobre o terraço. O piso da sala é de O piso da sala é de cimento queimado, usado em casas populares da época . A casa não tem quarto de empregada ou serviço separado, rompendo a tradição patriarcal e escravista das moradias paulistanas”.

A distribuição interna da Casa também pode ser vista em várias publicações ou acessando o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=7SP7C_waomI, uma vez que não é aberta à visitação, pois serve de residência para seus descendentes.

Em frente à Casa de Artigas
Também referido por Rosa Artigas, a Casa é construída em tijolos, concreto e toda envidraçada e também tem o banheiro e a cozinha em seu centro. A discreta porta social está à esquerda do centro da fachada. A sala é grande, tem pé direito duplo e um pátio interno para onde dão os cômodos. As paredes possuem tijolos expostos para exibirem o material de construção em sua essência. Tudo é muito colorido e as cores utilizadas na casa se repetem em outras obras de Artigas. A lareira é um destaque muito evidenciado nas fotos.

Em 2012 essas obras ganharam proteção do Condephaat com abertura do processo de tombamento. Sobre a importância dessas casas, o Condephaat cita a liberdade do arquiteto “ao propor moradias com fluidez dos ambientes e jogo de volumes e superfícies”, além de “romper dogmas e se afastar das influências dos fundadores da arquitetura moderna Le Corbusier e Frank Lloyd Wright.

Artigas faleceu em 12 de janeiro de 1985, em São Paulo, capital, aos 69 anos.
O valor histórico e arquitetônico das casas foi reconhecido pelo Estado no início de 2015, ano em que se comemora o centenário de Vilanova Artigas e as duas casas são consideradas marcos da arquitetura brasileira por romperem com os padrões de plantas tradicionais da casa paulista da época. Vale conhecer, mesmo que seja apenas a parte externa, pois a história está ao seu redor.