sábado, 30 de maio de 2015

Restaurante Buttina - massas artesanais e desenhos de Niemeyer traçados nas próprias paredes

A cidade de São Paulo tem como um de seus grandes atrativos a rica e variada gastronomia, com restaurantes que oferecem pratos de todos os cantos do mundo, para todos os gostos e bolsos. Contudo, do mesmo modo com que os italianos nos enriqueceram com sua imigração em grande escala, também nos ensinaram seus hábitos alimentares, e as pizzarias, restaurantes e cantinas italianas predominam na cidade.

No tradicional bairro de Pinheiros, na zona oeste, numa ladeira que atualmente conta com a faixa vermelha da ainda discutível ciclovia, está um restaurante que é só detalhes, a começar pela fachada colorida de um bonito sobrado antigo reformado. A placa com o nome do estabelecimento já indica sua origem: a bota, o mapa da Itália.

Fui conhecer o Buttina para comemorar o aniversário de uma grande amiga.O local possui vários ambientes, a começar por mesas e bancos ao ar livre cercados de verde.

Logo após subir alguns lances de escada está o primeiro salão, que no início das atividades do local era o único. Ali se encontra, na verdade, o detalhe mais original do restaurante e também que o torna único: dois croquis assinados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, falecido em 2012 aos 104 anos.

Duas paredes contam histórias e memórias através desses desenhos feitos diretamente sobre elas e dedicados aos proprietários: o casal Filomena Chiarella e José Otávio Scharlach. Esse detalhe especial de São Paulo foi que me fez desejar conhecer de perto e saber um pouco mais sobre ele e algumas informações me foram gentilmente fornecidas pelo próprio proprietário, José Otávio.

Esse clássico e premiado restaurante da cidade foi inaugurado em 30 de agosto de 1996, sendo que no início era também a residência dos proprietários.

Foi José Otávio quem me contou que havia ido a um evento com um grupo de jovens arquitetos da FAU/USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), que era uma exposição no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro. Lá estando, ele foi apresentado a Oscar Niemeyer que, vindo a São Paulo foi ao Buttina. Niemeyer ficou amigo do casal.

A data, que José Otávio recorda bem, era quatro de outubro de 1996. Niemeyer estava na cidade para participar de um programa de TV e fora ao Buttina com outros personagens de televisão como Ferreira Goulart. Lá havia festa, cantoria e música, e, além disso, ambos admiravam e tocavam o mesmo instrumento: o cavaquinho. Em certo momento Niemeyer pediu uma caneta dizendo que faria uns desenhos porem recusou o papel que lhe foi oferecido. E foi então que, aos 89 anos de idade, Niemeyer realizou os desenhos que vemos hoje nas paredes do restaurante.

O desenho da parede maior é um croqui que retrata o Museu de Arte Contemporânea de Niterói que havia acabado de ser inaugurado em setembro daquele ano. Está dedicado ao casal e assinado  no relevo da pintura da parede.

Extenso croqui do MAC de Niterói/Rio de Janeiro desenhado no Buttina
Início do desenho, mais de perto. O reflexo é devido ao vidro de proteção.
Sequencia do desenho. Compare na foto do desenho inteiro.
Detalhe do desenho do Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Foto emoldurada de Oscar Niemeyer e seu museu, inaugurado em 1996
O outro desenho é de um contorno de corpo feminino de bruços e com pequenas figuras, como que com pernas, parecendo caminhar sobre esse corpo. Está intimamente assinado “Oscar”.

Ambas as paredes estão devidamente protegidas por vidros transparentes, o que impediu a realização de melhores fotos. Contudo, em conversa com José Otávio, fui informada que apesar de um pouco dificultoso, os vidros podem ser retirados para fotografias em situações especiais. Mesmo que eu soubesse no momento em que estava lá, acho que a proteção a esse verdadeiro tesouro histórico e afetivo seria mais importante do que uma foto sem reflexos para este post.

Curvas, marca de Niemeyer, num corpo feminino 
A partir daí sempre que vinha a São Paulo Oscar Niemeyer procurava ir ao restaurante e foi lá que comemorou seu aniversário de 90 anos.

O restaurante foi se expandindo e mesas passaram a ocupar o espaço que era do quintal de jabuticabeiras, que, por sinal, seguem embelezando o local e produzindo seus frutos com os quais são elaborados sorvetes de época. São vários ambientes aconchegantes como mezanino ou um jardim mais aberto e de localização mais alta. 

Primeiro salão após o inicial com os croquis

Esta sou eu
Subindo as escadas por entre as jabuticabeiras
O aconchegante mezanino
Mesas ao ar livre bem no alto
Lá embaixo já está sendo preparado o salão para a noite
Indo embora pelo corredor da adega
Bufê de saladas
Rapidamente sobre a comida, pois queria mesmo era falar sobre esse espaço gastronômico, fui para almoçar num dia de semana e havia um preço único e bem acessível para o bufê de saladas mais um prato quente à la carte. O prato é individual e as porções não são grandes, porém muito suficientes.

Polpettone recheado e arroz especial

Na saída, voltando pelo corredor da adega, massas frescas e antepastos para viagem.

Fico devendo uma foto própria da fachada, pois deixei para fazer na saída, mas o táxi já aguardava e não era permitido parar em frente por conta da ciclofaixa.

Massa artesanal. Vou levar !
Um espaço acolhedor, cheio de detalhes que aproximam da arte e da natureza e com uma história muito especial para São Paulo.

Mais um detalhe: quando conversei com José Otávio a pergunta que me fez foi se eu havia sido bem atendida, sem qualquer questionamento sobre o cardápio. Acho que isto mostra bem o espírito especial da casa.

Onde fica? À Rua João Moura, 976.









   

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