terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Mirante 9 de julho resgata mais um olhar para são paulo e sua história

A cidade de São Paulo ganhou em 2015 mais um mirante para ser admirada e que conta uma antiga e importante história. Antes de visitarmos, contudo, o Mirante 9 de Julho, espaço multicultural, gastronômico e de importância histórica, localizado sobre o túnel homônimo, vamos rever um pouco sobre como esse local surgiu.

O túnel 9 de julho existe desde a década de 30 e foi o primeiro túnel urbano da cidade. Projetado pelo engenheiro Domingos Marchetti, tinha como objetivo unir a zona central da cidade, o Vale do Anhangabaú, à zona sul. Embora a região sul ainda tivesse apenas chácaras e casas que ocupavam quarteirões inteiros e fosse passagem de tropeiros, já prometia expansão para a cidade, previsto no famoso, premiado e também controverso “Plano de Avenidas” de Francisco Prestes Maia.

Antes da existência do túnel, que foi assim denominado em homenagem à data de início da Revolução de 1932, o local era um vale chamado Vale do (riacho) Saracura com vastas áreas de vegetação e inicialmente também o córrego Saracura, sobre o qual foi posteriormente construída a Avenida 9 de Julho. Antes da existência do túnel era necessária a difícil passagem pela subida do espigão da Paulista para alcançar o outro lado do vale.

O túnel foi inaugurado em 1938 pelo então prefeito Prestes Maia com a presença do presidente Getúlio Vargas. Sua extensão atual fornecida pelo Município é de 1045 metros no sentido centro-bairro e 1060 metros no sentido bairro-centro com seus 460 metros de comprimento.

Pois bem, nessa época ainda não existia seu vizinho MASP (Museu de Arte de São Paulo), mas no local havia uma grande área pública erguida em 1916 com várias instalações recreativas, chamada Belvedere Trianon, onde a elite paulistana tinha uma vista abrangente do Vale do Saracura. Com a crise do café o elegante Belvedere foi modificando e popularizando suas instalações até fechar as portas em 1961. Em 1968 foi inaugurado o MASP, com a ressalva de que o mesmo deveria deixar o vão livre para o mirante, que contava agora com a vista do topo do túnel com sua elevada torre de observação e da Avenida 9 de Julho já pavimentada.

A manutenção do crescimento desorganizado da cidade e do desenvolvimento populacional fez com que, em meados de 1970, o então prefeito Paulo Maluf “decapitasse” a torre de observação que se elevava acima do túnel. Retirou sua parte mais alta nivelando a torre com a laje sobre o túnel de forma a construir vias para automóveis para desobstruir o trânsito na Avenida Paulista. Nasceu aí um viaduto sobre o túnel, o Viaduto Bernardino Tranchesi, assim denominado desde julho de 1971 em homenagem ao professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo morto naquele ano.

Túnel 9 de Julho com a torre de observação intacta
Foto obtida da página do Mirante.
Túnel 9 de Julho em 2016 com a torre "decapitada".
Acima o Viaduto Bernardino Tranchesi. Ao fundo o MASP
 Para completar a “aventura” desse histórico túnel pelo qual tantos paulistanos passam diariamente sem mal notá-lo, além da deterioração crescente do local, no ano de 2001, ele foi rebatizado de Túnel 9 de Julho para Túnel Daher E. Cutait, pela prefeita Marta Suplicy. A homenagem à Revolução de 32 foi substituída pela homenagem a um ilustre professor e doutor do Hospital Sírio-Libanês, recém falecido. Homenagem justa, mas não nesse endereço!

Túnel Dahrer E. Cutait ou Túnel 9 de Julho? Está na placa

Mirante 9 de Julho

O Mirante 9 de Julho faz parte de uma série de iniciativas da Prefeitura, que visa à recuperação de espaços abandonados/degradados e de desenvolvimento sociocultural de São Paulo.

O projeto de revitalização urbanística do Mirante compreende intervenções em uma área que abrange o complexo do Túnel 9 de Julho e seu entorno, composto por uma sala de observação acima do túnel, uma escadaria e duas praças com chafarizes localizadas nas laterais das vias da Avenida 9 de Julho. Em estilo art déco, o conjunto arquitetônico passou décadas abandonado e sendo frequentado por moradores de rua e dependentes químicos, tanto que a escadaria era conhecida como “Escada da Maconha”.

A primeira fase da intervenção concluída foi exatamente a restauração dessa sala de observação, que foi chamada Mirante 9 de Julho, bem como dos acessos a ela. A inauguração ocorreu em 23 de agosto de 2015.

Localizando e acessando o espaço

Se você estiver na Avenida 9 de Julho na altura da entrada dos túneis, do lado bairro, basta olhar para cima, no topo do túnel, que é exatamente o local do Mirante. Contudo, para ter acesso a ele a partir da referida avenida é necessário subir as escadas laterais e para isso você precisará estar a pé ou ter chegado de ônibus.

Uma referência de mais fácil acesso é a partir da Avenida Paulista. Chegue na altura do MASP, pois o Mirante está localizado bem atrás do museu embora, mesmo estando a um quarteirão do local, ainda não o avistará devido à presença do Viaduto Prof. Bernardino Tranchesi.

Prefira transporte público, mas, se estiver de condução própria, aviso que não há muito como estacionar ao redor então deixe o automóvel na região da Paulista. A seguir é só descer uma das ruas laterais do MASP e alcançar a Rua Carlos Comenale, que é a referência de endereço do Mirante. Nessa rua está a Praça Geremia Lunardelli, que fica bem em frente à escadaria de acesso ao Mirante.

Entrada do Mirante a partir da Rua Carlos Comenale
Detalhe da  indicação do Mirante
Acima da escadaria mapas de São Paulo recebem as bicicletas
Escaria de acesso ao Mirante sempre sendo utilizada
Seguimos descendo após a grande escadaria
Lateral esquerda a partir da escadaria.
Abaixo parte da Avenida 9 e Julho. Acima o Viaduto Bernardino Tranchesi

Sobre a revitalização do Mirante

O projeto de restauro e requalificação do Mirante ocorreu mediante parceria público-privada entre a Prefeitura de São Paulo e o grupo Vegas, do empresário Facundo Guerra em conjunto com o escritório MM18 Arquitetura, de Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira.

De acordo com seus idealizadores, “os novos equipamentos criados no local foram somente para atender a necessidade do novo uso: cozinhas, um bloco de sanitários, novos sistemas hidráulico e elétrico e iluminação urbana. Os materiais originais foram restaurados, como: pedras portuguesas, granilite do piso e acabamento da estrutura”. Tudo foi revitalizado, tanto internamente quanto no entorno, com recuperação do paisagismo original. O planejamento do local foi definido de modo que fosse o mais flexível possível para atender diferentes eventos, exposições e ocupações.

Visitando o espaço

Por fim esta escadaria o conduzirá a dez metros abaixo do nível da calçada de acesso e à belíssima vista que o Mirante permite: a Avenida 9 de Julho, os belos chafarizes laterais desativados e todo o antigo Vale do Saracura, agora ocupado pelos edifícios da cidade, alguns facilmente identificáveis. Acima, o Viaduto Professor Bernardino Tranchesi, para refletirmos sobre os sacrifícios da urbanização de nossa cidade.

Numa área aconchegante e linear está o Mirante. Instalado na lateral esquerda está o café Isso É Café e no canto oposto o restaurante Mercado Efêmero. No Café, produtos orgânicos e bons doces como o cheesecake com calda de amora. No restaurante, refeições saborosas em cardápio enxuto, ambos prometendo manter preços convidativos, o que por ora é verdadeiro. Há cervejas artesanais e quando fui também um carrinho com vinhos da região de Mendoza, que permanece fechado até o final da tarde. Entre ele, mesas,cadeiras e bancos de madeira num espaço aberto e arejado e, é claro, a bela vista do Mirante, protegida por vidros.

Detalhe para a "caneca fidelidade", em ágata branca, da Isso É Café. Você compra a caneca por R$20,00 e cada vez que voltar ao local ganha 50% de desconto nos cafés coados e outras promoções, segundo fui informada.

Tudo até agora muito à vista, mas, entre vidros e móveis, protegido por um cordão vermelho está um detalhe do local. A Escadaria Histórica, localizada dentro da torre entre os dois túneis. O que se vê inicialmente isolada pelo cordão vermelho é uma pequena abertura, um “buraco” como se houvesse antigamente um elevador, chamado Galeria Vertigem. A partir daí serão 100 degraus de madeira conservada, com corrimão, numa escadaria muito estreita em espiral com paredes sem acabamento, mas também sem o odor de mofo que imaginei que tivesse. Sua extensão alcança a Avenida 9 de Julho, onde está a pequena galeria, e para retornar só subindo os mesmos 100 degraus. Seguramente não indicada para claustrofóbicos, posso dizer que, embora com acesso fechado, fui gentilmente acompanhada por um funcionário do local para poder conhecê-la. Escadaria 1932! Esse é o nome. Ela foi descoberta durante a reforma. Qual será a sua história?

 A escadaria também não é utilizada apenas como acesso ao Mirante, mas para descanso, para realização de belas fotos do antigo vale do Saracura e como assento nas apresentações culturais.
Por fim, acima do Mirante fica a laje, destinada agora a apresentações musicais e artísticas em geral.

Agora algumas imagens

MASP, escadaria e... já começaram as pichações
Portões da escadaria abertos. A cidade moderna.
Avenida 9 de Julho esconde o Rio Saracura.
Trânsito no Viaduto Bernardino Tranchesi acima da laje cinza.
Vista da entrada do Isso é Café
A "caneca fidelidade"















Luminoso do restaurante





Vamos olhar a cidade?


Pista centro-bairro da Av. 9 de Julho. Canteiro e laterais abandonados
Chafariz seco mas ainda belo aguarda revitalização

Placa identifica a Galeria Vertigem

Entrada para a escadaria em espiral que conduz à Galeria

Estou aqui para mostrar o caminho. Estreito e profundo!

Abaixo do viaduto está a laje onde ocorrem eventos culturais

Quanta história por traz daquelas janelas discretas!
Coluna à esquerda é a torre com a Escadaria 1932.

E aqui temos um novo mirante na cidade para resgatar a memória de belos locais esquecidos e nos trazerem um pouco mais da história de São Paulo. Recém aberto sim, mas seguramente não será o último.

Serviço:
Entrada: gratuita
Horários:
Espaço Cultural: das 10 às 22h – terça a domingo (e feriados).
Restaurante O Mercado: das 12 às 22h – terça a domingo (e feriados).
Café e bar Isso é Café: das 10h às 18h (Café) | das 18 às 22h (bar) – terça a domingo (e feriados).
Telefone: (11) 3111-6342












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