quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Casa Modernista da Rua Santa Cruz, a primeira do país

A Casa Modernista da Rua Santa Cruz foi a primeira obra arquitetônica em estilo modernista do país. De autoria do arquiteto e urbanista russo (ucraniano da cidade de Odessa) Gregori Warchavchik (1896–1972) a casa foi projetada em 1927 e construída em 1928. 

Fachada da Casa Modernista da Rua Santa Cruz
Casa Modernista entre a vegetação.
Detalhe das entradas frontal e lateral

Nas imagens abaixo, o jardim que foi projetado por Mina Klabin nos 13 mil m2 que cercam a residência, com uso pioneiro de espécies tropicais. O bosque de eucaliptos foi plantado para evitar contato com o prédio que estava em construção em frente à casa, que seria o Hospital Nipo-Brasileiro.


Jardim visto a partir da entrada de serviço, com trilha de pedras
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Vista parcial do jardim a partir do primeiro piso

O Modernismo foi um movimento cultural global que se iniciou na Europa e, no caso da arquitetura, deu início a uma nova fase estética buscando racionalismo e funcionalidade nos projetos e abandando as tradições de construções neocoloniais, grandiosas de materiais pesados, com utilização de luxo excessivo e detalhes intensos de ornamentos.

Os primeiros anos do Modernismo no Brasil tiveram início a partir da primeira década do século XX, principalmente em São Paulo, e foram marcados por hostilidade da opinião pública e grandes obstáculos como os limites impostos pela legislação, o alto custo dos materiais industrializados como o cimento e o vidro e a formação técnica da mão-de-obra, uma vez que os métodos construtivos utilizados ainda eram bastante artesanais.

Manifestos de vanguarda ocorriam, Warchavchik já publicava sobre a necessidade de uma renovação estética própria para a civilização do século XX com valorização da cultura e da realidade nacionais, realçados na Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo.

Para tentar compreender o objetivo desse pensamento duas máximas se tornaram as grandes representantes do modernismo: “menos é mais” (do arquiteto Van Der Roche) e “a forma segue a função” (do arquiteto Louis Sullivan).

Nessa época em que a cidade passava por um intenso processo de industrialização e urbanização Warchavchik, quatro anos após sua chegada ao Brasil, realizou o primeiro projeto modernista ao construir sua própria residência na Rua Santa Cruz, na zona sul de São Paulo, hoje conhecida como Casa Modernista.

A construção em estilo sem precedentes no Brasil, que marcou o momento de transição das formas clássicas ao inovador, causou grande impacto por apresentar linhas retas, cor branca e não possuir ornamentos comuns à época. O projeto para a casa teve como objetivo a racionalidade, o conforto, a utilidade, uma boa ventilação e iluminação.

A obra era tão impactante para a época que, para conseguir obter aprovação junto à prefeitura o arquiteto apresentou uma fachada totalmente ornamentada, e após a conclusão da obra, alegou falta de recursos para completá-la.

Detalhe que muito do sucesso da obra se deveu a seu casamento com Mina Klabin, filha de industrial da elite paulistana e um dos maiores proprietários de terras urbanas da cidade, cuja fortuna e simpatia com o pensamento modernista o incentivaram.


Outro detalhe refere que o imigrante lituano Maurício Freeman Klabin, pai de Mina, era cliente de Warchavchik que projetava para ele loteamentos, casas de aluguel e pavilhões industriais. Uma das formas de pagamentos desses serviços foi o terreno da Rua Santa Cruz.

A Casa Modernista 

Acompanhando as fotos inicio a visita pela fachada frontal da casa recordando que foi construída com o pensamento de simplificação dos detalhes em benefício dos custos de obra e da facilidade de execução. A fachada obedece a um eixo de simetria que não é rebatida em planta nas dependências internas. Reparem que a porta aberta permite ampla visão dos jardins dos fundos da casa.

As paredes eram rugosas, de modo a reagir à luz em vez de apenas refleti-la.

Fachada da casa modernista atualmente
Vista parcial da sala
Até meados da década de 1960 o arquiteto tinha o hábito de receber
para jantar todos os arquitetos formados nas duas únicas escolas
de arquitetura da cidade.
Cômodos confortáveis, com boa ventilação e iluminação
Detalhe da fachada do primeiro piso com janela de um dos quartos
Aqui assistimos um belo e nostálgico depoimento de herdeiro do casal

Cozinha com a tendência de simplicidade, prioriza a iluminação natural
Azulejos no teto e prateleiras de mármore

Warchavchik também projetou mobiliários, luminárias e portas diversas, como a de enrolar no em seu eixo.

Porta da cozinha


Um projeto dinâmico

Em 1934 a casa passou por uma importante reforma projetada por Warchavchik para adequá-la ao aumento da família devido ao nascimento de seus dois filhos. A sala de estar foi ampliada bem como a cozinha e o quarto principal, com o acréscimo de um grande e belo terraço circundando o quarto da esposa e mais um banheiro. O acesso principal passou a ser realizado pela lateral da casa, onde foi acrescida uma marquise.

Na entrada, muitas informações

Entrada lateral com marquise, priorizada após a reforma

Grande porta que se abre para os fundos da casa

Detalhe da abertura da grade de proteção
da janela da sala vista na foto acima

Vamos subir?


Escadaria de madeira, corrimão colocado mais tarde
 Caixilho com basculantes na escada foi substituído
por belos blocos cilíndricos de vidro

Chegando ao primeiro piso com muita luz e simplicidade
 Caixilho com basculantes na escada foi substituído 
por belos blocos cilíndricos de vidro na reforma
Através de um bloco de vidro a natureza lá fora
Cômodo do casal com grande varanda construída na reforma de 1934
Piscina vista a partir da varanda
Palco de eventos como a grande festa de 1944 em prol da Cruz Vermelha
 brasileira e russa. Barqueiros do Volga remavam e cantavam na piscina.
Reforma substitui as três janelas do piso superior por espécie de balcão
projetado para fora. A iluminação é feita pelas peças cilíndricas de vidro e
portas-balcão que se abrem para as varandas.
Vista parcial dos quartos
A grande varanda com placa explicativa ao centro
Banheira 

O que aconteceu com a casa?

Warchavchik viveu com Mina Klabin até sua morte. A partir de 1972, quando herdeiros do casal passaram a cuidar da propriedade, logo anunciaram a intenção de vendê-la a uma construtora, que prometia erguer ali diversas torres de apartamentos. Em protesto, os moradores do bairro da Vila Mariana criaram a “Associação Pró-Parque Modernista” em defesa da casa e sua área verde, exigindo posicionamento do Estado. Este impediu a compra e realizou o tombamento do imóvel primeiramente em 1984 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) e posteriormente também pelo seguido pelo Iphan e pelo Conpresp.

Vamos nos despedindo
A briga na justiça só terminou em 1994 quando o governo foi obrigado a adquirir o ponto e indenizar os proprietários. Deteriorado, o imóvel permaneceu fechado por mais de 20 anos, sendo inclusive alvo de invasões até que em março de 2008 a prefeitura do município de São Paulo passou a ser permissionária do imóvel, tendo o governo do Estado transferido a ela a responsabilidade pelo seu uso e manutenção. A residência, ainda em restauro, reabriu as portas para visitação em 2008.

Endereço:
Rua Santa Cruz, 325 – Vila Mariana
Tel.: (11) 5083-3232

Entrada franca

Até os dias atuais as obras do modernismo continuam sendo referências importantes e marcos da nossa arquitetura.

A Casa modernista é um clássico da Arquitetura e faz parte dos imóveis que compõe o projeto Museu da Cidade.

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