domingo, 4 de janeiro de 2015

O Marco Zero de São Paulo, de Jean Gabriel Villin

É início do ano novo e período de férias escolares. Durante o mês de janeiro postarei dicas de lugares para passeios mais longos e que poderão ser usufruídos por pessoas de qualquer idade. É claro, contudo, que você encontrará detalhes para descobrir em cada um deles.

Por onde se inicia a cidade de São Paulo? A melhor referência é o Marco Zero. Ele está situado na Praça da Sé na região central da cidade, bem em frente à Catedral Metropolitana da Sé, cuja cripta visitamos em post anterior (para acessar clique aqui)

O Marco Zero de São Paulo é antes de tudo um monumento histórico. Foi inaugurado em 18 de setembro de 1934 com a presença do recém empossado prefeito Fábio da Silva Prado e marcou definitivamente o centro oficial da capital paulista. Além disso, se tornou o primeiro marco zero em toda a América do Sul.

Como em todos os locais onde existe, o marco zero representa o centro geográfico da cidade, sendo um marco regulador das distâncias entre a Capital e os municípios. A partir dele todas as medições de distância relativas são estabelecidas, como numeração das ruas, quilometragem de rodovias e ferrovias. Algumas vezes representa também o local da fundação da cidade, como em nosso caso. Essa referência situa-se muito próxima da primeira construção de São Paulo, e local de sua origem. Era um barraco de taipa onde foi rezada a primeira missa com a participação de indígenas a serem catequizados, que em seguida deu origem a um colégio, que ainda hoje possui uma parede de taipa original. Esse local chama-se Pateo do Collegio.

No centro da Praça da Sé, ladeado por uma alameda de palmeiras imperiais (segundo informação confiável, vindas do Uruguai) e por estátuas como a do apóstolo Paulo e do padre José de Anchieta, pode se ver uma rosa dos ventos com o monumento sobre um pedestal de granito. O monumento do Marco Zero tem formato de um prisma hexagonal, mede 1,13m x 0,70m x 0,70m e foi construído em concreto revestido de mármore. 

Cada face lateral do monumento representa seis importantes lugares e são eles: Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Santos, sendo que os quatro primeiros são os estados que fazem divisa com São Paulo e Santos, é claro, é uma importante cidade portuária. Cada um destes locais é simbolizado com uma gravura. O Paraná é representado por uma araucária; o Rio de Janeiro pelo Pão de Açúcar e por bananeiras; Minas Gerais por materiais de mineração profunda; Mato Grosso pela vestimenta dos Bandeirantes; Goiás é simbolizado por um utensílio em formato de chapéu chinês chamado bateia, com material de mineração que recorda o ouro e Santos por um navio, que na época transportava para o exterior a nossa riqueza, o café. As representações não são seguramente da forma como seriam feitas hoje, mas temos que recordar que o monumento foi projetado dois anos antes de sua inauguração ainda, em 1932.

Face representativa do Rio de Janeiro
Visão parcial da rosa dos ventos



Alusão à mineração de Minas e Goiás
Detalhe para os degraus do pedestal
 Em seu topo há uma placa também hexagonal, em bronze, que representa os principais pontos da cidade na época de sua construção, como os rios Tietê e Pinheiros, a Estação da Luz, o Museu do Ypiranga (como era escrito na época) e ruas como a Voluntários da Pátria na zona norte e rua da Consolação.

Topo de bronze do Marco Zero
Palmeiras imperiais e "sem teto" dormindo
A história dessa construção é do início do século XX, quando São Paulo não tinha um marco zero e a quilometragem das estradas era determinada por vários pontos espalhados pela cidade. O jornalista Américo R. Netto, membro da Associação Paulista de Boas Estradas, preocupado com essa ausência de centralidade, lançou a proposta de se criar um marco zero para a cidade em 1921. Indicou então o artista francês, naturalizado brasileiro, Jean Gabriel Villin para a concepção da obra e as ilustrações. A ideia de Américo Netto só foi aceita em 1932 e Villin concluiu seu projeto em 1934, que desde 2007 está tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP).

O acesso à Praça da Sé possui várias opções, contudo, o local sofre conseqüências da deterioração do centro da cidade como um todo. Apesar da presença de policiamento móvel, no local há questões sociais e de segurança, com usuários de drogas e sem teto, “intocados”, além de, como no dia que fui, músicos amadores que com seus instrumentos e danças atraem público e facilitam roubos aos distraídos. Você deve ir durante horários de maior movimento e, se possível, acompanhado ou seguindo grupos de turismo ao centro velho da cidade.

Detalhes:

- O mármore utilizado no monumento do Marco Zero é nacional e foi extraído de uma jazida do município de Cachoeira paulista.

- Dentre outros trabalhos, Jean Gabriel Villin também é admirado por ser o ilustrador das histórias de Monteiro Lobato.

- O atual marco na Praça da Sé é na verdade o quarto de uma série de tentativas de fixar um centro geográfico na cidade.
O primeiro marco ficava em frente à primeira igreja da Sé, de barro e palha, demolida em 1745, e a localização exata é incerta.
O segundo marco era a torre da segunda igreja matriz da Sé, também já demolida e, 1911.
O terceiro marco era um monumento criado ao lado dessa segunda matriz.
Após a demolição da segunda igreja da Sé houve um período em que São Paulo deixou de ter um marco zero e a quilometragem das estradas passou a ser determinada por vários pontos espalhados por várias regiões cidade, até a entrega do Marco Zero que conhecemos hoje. A nova Catedral só seria inaugurada em 1954.




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