Já independente de Portugal desde 1822, o Brasil era governado pelo imperador Dom Pedro II. Com o tempo seu governo foi sendo desgastado e gerando descontentamento entre vários grupos da sociedade após a ocorrência de fatos como a abolição da escravatura. Os grandes produtores rurais sentiam-se prejudicados pelo fim da escravidão após a Lei Áurea, com perda da mão de obra que dispunham sem terem sido indenizados pelo governo. Os cafeicultores queriam não só o poder econômico de que dispunham, mas também adquirir poder político.
O exército também estava descontente, pois tinha pouca voz nas decisões do país e pouca liberdade para manifestar-se e a classe média, agora maior e com mais estudo e comprometimento com a vida econômica desejava mais liberdade e participação nas decisões sobre os rumos do país.
Quanto à população em geral, embora não tenha tido participação nos acontecimentos que se sucederiam e respeitasse a figura de Dom Pedro II, apresentava sinais de empobrecimento e de pouca atenção por parte do sistema vigente. Dom Pedro II também interferia nos assuntos religiosos, não agradando então a esse grupo.
Era o ano de 1889 e o império já não correspondia mais às necessidades econômicas e sociais, vivendo uma crise irreversível. O imperador, sob constantes críticas, estava cada vez mais afastado das decisões políticas. Nessa época o Brasil já era o único país com sistema monárquico em toda a América Latina.
Republicanos civis e militares então se uniram e foram se aproximando do Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, militar conceituado principalmente após sua atuação na guerra do Paraguai, e convencendo altos oficiais militares adeptos da causa republicana sobre a necessidade de uma grande mudança.
A capital do Brasil era o Rio de Janeiro e em 15 de novembro de 1989 o Marechal Deodoro tomou a frente de militares republicanos e, sem qualquer resistência, adentrou no Primeiro Regimento do Exército Brasileiro. O gabinete ministerial foi demitido e nesse mesmo dia foi proclamada a República do Brasil, no local chamado Praça da Aclamação, atual Praça da República do Rio de Janeiro.
"Proclamação da República", de Benedito Calixto, 1893 |
Marechal Deodoro no ato simbólico da "Proclamação" |
E o que nos faz lembrar esse fato histórico na cidade de São Paulo?
São basicamente alguns logradouros públicos.
1. Rua Quinze de Novembro
Localizada na região central da cidade, é rua exclusivamente de pedestres e conta com importantes edifícios como a sede da Bolsa de Valores. Primeiramente se chamava Rua do Rosário. Depois Rua da Imperatriz e recebeu seu nome definitivo após a proclamação da república.
2. Praça da República
Também no centro da cidade, foi palco de movimentos políticos como o MMDC (em post anterior). É um local arborizado que possui uma popular feira de artesanato aos domingos, mas também exemplo de degradação e descuido com os bens públicos.Teve outros nomes antes do atual.
O espaço foi inicialmente utilizado para treinamentos militares, quando era conhecido como Praça das Milícias. O nome seguinte foi Largo dos Curros, porque era um grande pasto para animais, além de abrigar eventos como cavalgadas. Também foi Largo 7 de abril até que, para homenagear o feito de Marechal Deodoro houve a iniciativa de nomeá-la Praça Quinze de Novembro, nome imediatamente substituído pelo atual pois já existia a rua Quinze de Novembro.
Vista parcial da Praça da República em São Paulo |
3. Praça Marechal Deodoro
Localizada no bairro de Santa Cecília, centro da cidade. Embora tenha o Marechal no nome, possui seis esculturas sem qualquer alusão ao seu fato histórico.
Praça Marechal Deodoro, no bairro de Santa Cecília. Escultura "O índio e o tamanduá”, de Ricardo Cipicchia, 1940 Minhocão ao fundo |
A praça é dividida pela Avenida Angélica |
Placa indicativa da Praça Mal. Deodoro |
Esta é a maior escultura da praça. "Monumento a Luiz Pereira Barreto", de Galileu Emendabili, 1929. Ao lado há duas mulheres que fazem referência à medicina e à agricultura. |
"O Jardineiro" Quatro esculturas em bronze, de Murilo Sá Toledo foram instaladas na Praça Mal. Deodoro no aniversário de 457 anos da cidade de São Paulo. |
"O Gari" Esculturas em tamanho natural |
"A Copeira". Agora com a bandeja de volta As estátuas compõe o "Monumento ao Trabalhador do Asseio e Conservação e Limpeza Urbana" |
"A Auxiliar de limpeza" Ao fundo à esquerda está a placa das esculturas |
Após a construção do metro de São Paulo, as praças deram seus nomes às estações correspondentes. Assim temos a estação República, inaugurada em 1982 e a estação Marechal Deodoro, inaugurada em 1988.
Há ainda a Rua Marechal Deodoro no bairro Chácara Santo Antonio, zona sul da cidade.
5. Não há qualquer escultura ou busto do Marechal Deodoro em São Paulo, mas a cidade guarda uma obra de arte.
Na Pinacoteca do Estado, pertencendo ao acervo próprio, está o óleo sobre tela do paulista Benedito Calixto “Proclamação da República”. Imponente, o quadro representa o início dos acontecimentos do dia 15 de novembro de 1889. Segundo publicação da própria Pinacoteca o Marechal teria dado “vivas” à República, ao que se seguiu uma salva de 21 tiros de canhão disparados pela artilharia.
A memória visual fornecida pela tela supera qualquer divergência que possa haver em relação aos fatos ocorridos.
"Proclamação da República" em destaque à esquerda |
Na Pinacoteca de São Paulo. Óleo sobre tela 123,5 x 198,5 cm |
Face dos personagens com poucos detalhes, característica do pintor |
Detalhe na tela para aspectos de bravura e heroísmo dos envolvidos |
Detalhe da presença dos militares, sem participação popular |
6. Há um detalhe que homenageia o Marechal Deodoro, de alcance nacional. O anverso da moeda de 25 centavos do real possui seu busto em relevo e os dísticos "BRASIL" e "DEODORO". Na moeda o Marechal Deodoro da Fonseca está ladeado pelo Brasão de Armas do Brasil, que foi desenhado por Artur Zauer sob sua encomenda.
Anverso da moeda com Marechal Deodoro |
Moeda de 25 centavos de real |
Agora é só sair para uma visita histórica pela cidade e descobrir outros logradouros ou obras de arte que prestem a merecida homenagem ao feito de Marechal Deodoro.
Será que não cabe um busto do primeiro presidente republicano em alguma das praças citadas?
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